Eu o conheço de longa data. Aqui confesso: agora, somente nos últimos três anos, aproximamo-nos. Eu, na correria de sempre: aqui e acolá, equilibrando pratinhos, e ele, reservado, tímido, talentoso, cuidando da vida plural de design gráfico. Fazia tempo que estava querendo escrever sobre o seu talentoso trabalho. Quando vi a capa da “Revista Abigraf”, número 325, edição comemorativa dos seus 50 anos (1975 – 2025) ininterruptos, sentenciei-me: “É agora!”. A capa – belíssima – é criação do design e publicitário Cesar Mangiacavalli, paulistano, nascido no ano de 1958, formado em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado e que, desde 1988, a convite do editor Plínio Gramani, trabalha como editor de arte da “Revista Abigraf”. Aos 16 anos de idade, atuou como publicitário assistente de estúdio na agência de propaganda Cosi, Jarbas, Sergino e, depois, como chefe de estúdio na Jarbas Propaganda e assistente de criação na GGK São Paulo e Ênio, Associados. Foi, também, diretor de arte nas agências Castelo Branco e Associados (CBBA); Central de Criação; Link; Clemente & Associados; Cine-A; Propeg São Paulo, Salvador e Brasília; e diretor de criação da Midialog, uma das primeiras agências de mídia digital do País. Desde o ano de 1999 é jurado do Prêmio de Excelência Gráfica Fernando Pini, da Abigraf – Associação Brasileira da Indústria Gráfica. Ao longo de sua incrível história, a “Revista Abigraf”, ganhou os prêmios nacionais e internacionais: Comtexto de Comunicação Empresarial, de 1989 e 1990; Aberje, de 1993, 1994, 1995, 1996 e 1998, da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial; Benny e Certificate of Merit, de 1998, e Award of Recognition, de 2000 e 2001, da Printing Industries of America; Anatec Ouro e Prata de 2006, da Associação Nacional de Editores de Publicações Técnicas; e, com o jornalista Ricardo Viveiros, o Prêmio Antônio Bento de 2011, da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA. Cesar Mangiacavalli, para surpresa de muitos, também é escritor, desde a sua adolescência. Recentemente, publicou pela Scortecci Editora, os livros “Os estranhos contos do Sr. Max” (2024) e “Outros contos do Sr. Max” (2025). Sobre sua obra literária, escreveu: “Na vastidão do cosmos, onde a Lua, os planetas e as estrelas dançam em harmonia, existe um lar magnífico: a Terra. Ela existe há muito tempo, antes mesmo de nossa percepção do ser e do estar. Quando vista do espaço, a Terra é azul, como uma joia celestial. Essa suposição, que só foi confirmada em abril de 1961, nos lembra de nossa pequenez diante da imensidão do Universo. No lado escuro da Terra, onde as luzes das cidades desenham constelações artificiais, a humanidade dorme e sonha. Eu? Sou o escriba dos tempos imemoriais. Escuto e escrevo cada acentuação mal aplicada, cada vírgula equivocada. Sou como o Verbo lapidado à luz do conhecimento. A Terra e a humanidade são minha luz no firmamento. Meu propósito é carregar o fardo da verdade, desvendar estigmas e erros, oferecer uma justa compreensão. Porém, meu nome deverá permanecer oculto até que possa cumprir meu trabalho, uma tarefa quase infinita. Pela eternidade já o fiz; pela humanidade sempre o farei. No limiar de um novo tempo e no fim proclamado, eu existo como a luz que guia para uma eternidade renovada, um eclipse em meio à escuridão da verdade negligenciada. Não sou a mensagem, tampouco o mensageiro. Mas, assim como a Lua, os planetas, o Sol e outras estrelas, eu apenas existo.” Sobre o seu trabalho de design, com propriedade e experiência, com a sensibilidade de um contista, que narra o seu tempo, a sua vida, os seus encontros, Cesar Mangiacavalli assim nos ensina: “Quem tem uma longa experiência em criação gráfica, pode chegar a um conceito bem simples, que é o de buscar sempre o melhor. Às vezes, o melhor pode ser o mais arrojado. Outras, o mais equilibrado, ou o que transmite maior segurança. O que importa é a nossa postura. Essa atitude reflete na qualidade do trabalho, principalmente quando gostamos do que fazemos. Eu, como profissional de criação, tenho orgulho do que produzimos até hoje, do que isso representa para a valorização do nosso trabalho.”. O amor de Mangiacavalli pela “Revista Abigraf”, pelo seu trabalho, talento e dedicação, é mágico. Contamina olhos e corações. Fiquei horas navegando nos labirintos da arte da capa. Cada curva, um ângulo de possibilidades e caminhos. Cada traço – infinito e sensível – uma luz imortal. E as cores? Equilibradas, lúcidas, infinitas... Depois, desavisado de tudo, abri e li a revista inteira. Faço isso sempre. Parabéns, César Mangiacavalli, Plínio Sobrenone, Tânia Galluzzi, equipe, colaboradores e patrocinadores. Um detalhe, insignificante, talvez: a revista tem cheiro bom. Natureza de papel, tinta, suor e trabalho. Essências de Gutenberg, algo assim.
João Scortecci