Nós, eternos jovens de cabeça, costumávamos “filosofar” sobre esquerda ou direita, montados na linha horizontal das ideologias. Era fácil e simples olhar para os lados e decidir sobre qual o caminho ou a direção a seguir. Até para os centristas - nascidos com o pêndulo de Foucault preso ao pescoço - sempre sobrava um ou mais pontos no horizonte dos espaços. Naquela época pensávamos igual fita métrica ou régua T. A rotação da Terra em relação a seu próprio eixo justificava qualquer desvio temporal, de curvas, inclinações e demônios. Coisas da época. Hoje a tal linha horizontal pontuada de sóis e luas tornou-se um pendulo vertical com bolas de sebo nas extremidades. Uma arma de guerra? No meio dos desafios em cair, subir ou continuar no jogo do pau de sebo, estão às raízes da memória. Aqui com os meus ossos: Qual o tamanho da espera? Qual a dimensão do avanço? Qual a hora do caos? Perguntas sem o menor sentido e lógica. Sóis e luas não são mais os astros do céu político. Fim do mapa de cartas, dos santinhos de papel e das promessas de algodão. Fim de uma certeza qualquer de futuro. Ceticismo? Talvez. Na dúvida ainda guardo no porão das tranqueiras: uma régua T, um rolinho de fita métrica, minha lancheira do Zorro, fotos do Eu criança, Botafogo, meu time de botões, um canivete suíço, um cantil com água e um pêndulo de chumbo, sobra de um velho relógio de parede. Nós, velhos de corpo, somos assim: santinhos de papel e lembranças.
João Scortecci