Das facetas da deusa Juno. As “caras” guardo no cofre do porquinho. As “coroas” eu deixo circular, livremente. Sempre foi assim. Aprendi o jogo da sorte com os ensinamentos do epíteto do Moneta, a avisadora. Na minha coleção de moedas antigas tenho raridades cunhadas no cume do Monte Capitolino. Isso na Roma antiga. Foi nessa época que conheci a deusa Juno. A “cara” que ela me deu de presente guardo até hoje. Cara é Cara, disse ela. Prefira - sempre - as faces e os perfis, explicou. Elas são transparentes e sinceras. São caras e únicas. Talismãs! Esqueça as “coroas” e seus Reis de pedra. São mentirosos, cruéis e falsos. E dão azar! Mesmo achando Juno uma doida de cobre e níquel sempre fiz a minha parte no trato. Quando o cofre do porquinho enche de “caras” trato de esvaziá-lo pagando o almoço do dia. Uma vez sobrou de troco R$ 3,20. A moça do caixa devolveu tudo em “coroas”. Isso não se faz, protestei. A deusa Juno deve ter ficado triste. Acontece. Em respeito ao epíteto nunca mais voltei naquela casa. Rigidez monetária! Não sou supersticioso. Só não gosto de brincar com a sorte.
João Scortecci