Fale-nos sobre você.
Não é fácil opinar-se! Cacofônico, né? Sou filho de pai cearense e mãe italiana, da Toscana. Lá em casa um dia tinha massa e no outro bucho. Tenho orgulho de ser italiano com sangue nordestino. Cheguei a São Paulo em 1972. Época de efervescência política e do engajamento cultural. Fiz a minha estreia literária nos anos de chumbo na Revista Poetação, de alunos da FAU/USP em 1972. Em 1978 junto com outros alunos da Universidade Mackenzie fundamos o grupo Poeco que publicou livros solo e quatro antologias de nome Ensaios. A vida literária era intensa e todos os dias ganhávamos as ruas da cidade de São Paulo panfletando, participando de recitais literomusicais e lançando antologias de novos. Foi o embrião da opção profissional que fiz pelos livros. Em 1982 abri a Scortecci editora. Em 1986 a gráfica. As livrarias, a escola do escritor e o espaço vieram depois. Tudo pensado e planejado na loucura que é ser escritor, editor, gráfico e livreiro tudo junto e ao mesmo tempo.
ENTREVISTA
Fale-nos sobre seus livros e sobre o que está lançando (Dos cheiros de tudo).
É o meu 23. A lista é grande: poesias, infantojuvenis e técnicos, sobre o mercado editorial brasileiro. Somam mais de 40 edições. Escrevo diariamente e no momento tenho mais dois outros títulos engatilhados. Dos publicados tenho os meus preferidos: Na Linha do Cerol (reminiscências poéticas), O Eu de Mim (poema ecológico), A Maçã que Guardo na Boca e agora o novo de nome Dos Cheiros de Tudo. São memórias do olfato, escritos no dorso nu da nuca de mulheres. É no dorso da nuca que encontramos os cheiros de tudo e as vontades expostas do cheiro. Não é um livro erótico. Longe disso. Sensual, talvez. Estou aproveitando para lançá-lo no evento de aniversário de 37 anos da editora e em comemoração a incrível marca de 10 mil títulos publicados em primeira edição.
Você é o diretor-presidente do Grupo Editorial Scortecci. Fale-nos sobre a empresa. Quantos livros já publicou? Quantos prêmios já recebeu?
A Scortecci nasceu em agosto de 1982. Uma sexta-feira 13, na loja de número 13, da Galeria Pinheiros, na Rua Teodoro Sampaio, 1704. A editora recebeu pelo seu trabalho e de seus autores os cinco maiores prêmio literários brasileiros: Jabuti (foi finalista ainda mais 7 vezes), o APCA (2 vezes), o Pen Clube, o Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional e o Prêmio especial da Academia Brasileira de Letras. Além da presidência da Scortecci, sou Presidente da Abigraf/SP, Conselheiro Eleito da CBL - Câmara Brasileira do Livro e Membro do Conselho Técnico Editorial do SNEL - Sindicato Nacional dos Editores de Livros. O tempo que me sobra escrevo, vou aos jogos do Palmeiras e pedalo de bike (minha paixão) pela cidade de São Paulo. Para o mercado de livros sou perito técnico, palestrante sobre o negócio do livro e consultor editorial e gráfico. Vivo livros!
Em 10 de agosto, haverá o evento comemorativo de aniversário de 37 anos da Scortecci. Fale-nos a respeito.
Estamos preparando um grande evento. Além do meu novo livro Dos Cheiros de Tudo – Memórias do Olfato, destaco no evento o lançamento da antologia de poesias, contos e crônicas O Construtor de Amigos, o recital literomusical, no Jardim Literário, que fica dentro do Espaço Scortecci e mais o lançamento de cinco outros títulos de autores da Scortecci que com suas obras irão abrilhantar a festa. O convite é aberto e esperamos superar o número de amigos do ano passado - festa de 36 anos - que foi de aproximadamente 450 pessoas.
Como é ser editor num país como o Brasil? Como analisa o mercado editorial?
Não é nada fácil. Já passamos por várias crises. Essa parece não ter fim. Os pedidos de recuperação judicial da Cultura e da Saraiva mexeram com toda a cadeira produtiva do livro afetando editoras, gráficas, distribuidoras, livrarias e autores. O mercado diminuiu 25%, em 12 anos. Creio que o pior já passou. Paramos de cair e isso é bom. O mercado não está parado. Observo o surgimento de novas livrarias – menores e segmentadas – e entidades do livro promovendo debates e fóruns sobre o negócio do livro. Cabe observar que o livro não está em crise. O mercado sim. Não há crise de leitores. As pessoas continuam lendo e amando os livros.
Que dica que poderia fornecer a um aspirante a escritor?
O básico chama-se leitura. Ler de tudo. Brinco que até bula de remédio. O exercício de escrever é diário. Não pode ser vez ou outra e nem depender do emocional. As dicas são as de sempre: humildade, respeito ao trabalho alheio, persistência e não desistir nunca. Já pensei nisso, duas ou três vezes, nos últimos 40 anos. Felizmente dei-me o direito de ser renitente e continuar apostando no incrível mundo das letrinhas. Ordená-las é o desafio. É o que procuro fazer. Sempre.
Cida Simka / Sérgio Simka
Conexão Literatura
07.08.2019