Zé Raimundo, o encanador, faz de tudo um pouco. Um quebra-galho! Quando preciso dele, ligo e ele aparece ligeirinho, feito um raio. Ontem no final do dia ele ligou, depois de quase um ano sumido. Quanto tempo Zé! O que você conta de bom? Perguntei. Zé Raimundo, cearense da cidade de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, foi curto e pontual: Está tudo uma merda! Estou sem serviço e sem dinheiro. Explicou. Lamento. Disse-lhe. A situação não está fácil. Argumentei. Sr. João, o senhor não tem serviço para mim? Não, respondi. Silêncio. Zé Raimundo ficou calado. Zé? Desligou. Deve ter caído a linha, pensei. Dez minutos depois Zé Raimundo ligou novamente. Sr. João aqui é o Zé. Sr. João, o senhor não tem serviço para mim? Zé, já te disse: Não! Silêncio. Desligou. 5 minutos depois ligou novamente. Sr. João, o senhor não tem serviço para mim? Não! Porra! Está de sacanagem comigo? Já te disse: não! Silêncio. Desligou. Ligou – outra vez – alguns minutos depois. Antes que abrisse a boca parti para o ataque: Zé, que merda é essa? Ficar ligando e desligando o telefone? Está maluco? Bebeu ou pirou de vez? O que está acontecendo? Quis saber. Encarei. Desculpa Sr. João. Desculpa. Voz embargada, de choro. Explicou: acho que foi a Covid. Fiquei meio esquecido, babaca de tudo. Silêncio. Zé? Não desliga. Desligou. Ligou mais 3 vezes. Não atendi. Na quarta vez atendi e fiquei mudo. Sr. João, o senhor não tem serviço para mim? Não. Já disse. Foi quando Zé Raimundo, o cearense de Caucaia, mostrou suas garras, sua estratégia de convencimento. Sr. João, vamos supor, que agora, nesse exato momento, assim, do nada, estoura um cano de água, a privada entope, precisa trocar uma torneira, consertar uma goteira no telhado, um vazamento de água na descarga, chovendo no meio da sua biblioteca de livros... Deliguei.
João Scortecci