Ethymon foi uma amiga grega. Seu apelido era Erda, de verdade. Apaixonamo-nos no ano da graça de 1982, quando inaugurei na Galeria Pinheiros, em São Paulo, a editora. Quem nos apresentou foi o saudoso Professor Ézio (Ézio Grassi Peluso), personalidade histórica do bairro de Pinheiros. Ézio, durante muitos anos, foi assíduo frequentador da casa editorial. Quer conhecer Ethymon, a Deusa da Etimologia, mãe da origem das palavras? Quero. Você não está de sacanagem? Não. Juro. Erda - o seu espírito - vive no corpo de uma jovem índia, na cidade de Cananéia, no litoral paulista. Quer mesmo? Quero, já disse. E assim aconteceu nosso inesquecível encontro. Erda - belíssima - visitou-me “enlaçada” ao corpo do indianista, dicionarista e escritor Luiz Caldas Tibiriçá, autor do dicionário Tupi-Português. Erda morreu jovem, no ano de 2006, junto com o passamento do Mestre Tibiriçá. Durante muitos anos - nós quatro - juntos, fomos um livro aberto. Em 1994, ano da última bienal do livro no Ibirapuera e a primeira da Scortecci, um grupo de moças do ensino médio - sabendo que éramos escritores - pediu autógrafos. Ézio, que sempre carregava no bolso da camisa duas esferográficas sacou uma e gentilmente perguntou: onde você quer o autógrafo? Esperávamos um livro, um caderno ou uma folha avulsa de papel. A moça de sorriso no rosto desabotoou sua blusa - não usava sutiã - e disse: aqui, apontando para o seu pequenino seio esquerdo. Ézio tentou - delicadamente - escrever algo no peito da moça tocando-o apenas com a esfera da caneta. Não conseguiu. Outra moça do grupo sugeriu: segura que vai. Ézio - prontamente - segurou o bico excitado do peito da moça e poetou. Versos crassos, do seu único e melhor poema carnal. Justificou-se. Ézio, você está gostando da Bienal do Livro? Sim. Muito.
17.05.2020