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Abrir janelas do imaginário

Parede da sala. Inteira branca e nenhuma janela. Isso do lado de dentro. Do lado que não existe. Abstração incolor. Natureza dos inanimados. E o rosto no chão? Algo perdido ou esquecido, provavelmente. Nada além de sombras. O vidro está trincado. Vejo rupturas na moldura. Traças. Algum sinal de violência ou sangue? Não. E pregos enferrujados? Não vejo pregos. Nem marteladas. Sinto - apenas - brisa de barulhos antigos. Almas partidas. Marcas do passado. Muitas. Todas - incertezas - do próprio destino. O que você sabe dele? Do passado? Sim. Sei que na parede do chão morava uma bailarina do estrangeiro. Magra, veloz e linda. Sinto o cheio de dança. E partida repentina. O vento veio - talvez com a lua cheia - e a levou. Traços de solidão nas cunhas do vazio. Goteiras? Não. Nem lágrimas de dor no espaço. O que fazer com a sala? Tudo. Olhar o outro lado. O lado que existe. Virar o jogo. O verso do reverso. A abstração viva da luz. Esperança? Também. Abrir janelas do imaginário. E sonhar Infinidades. Guarda tudo. É possível? No possível da sorte: sim!

16.06.2020