Mário, meu querido credor de Andrade. De quanto anda a minha dívida? Impagável,
eu sei. Na adolescência fui Lira Paulistana. E vez ou outra: Macunaíma. Na
Pauliceia dos sessenta anos - desvairadamente - contei meus anos e descobri que tenho
menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora. Você me
disse: não
devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. Viu que não
uso aspas? Tudo teu mesmo. Hoje, completo sessenta e quatro. Eu me sinto
como aquela criança que ganhou um pacote de doces. O primeiro comeu com prazer,
mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente. Tudo
teu mesmo. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são
discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo
que nada será alcançado. Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que,
apesar da idade cronológica, não cresceram. Tudo teu mesmo. Meu tempo é muito
curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa.
Olha o bolo virtual? É o novo normal. O essencial é o que faz a vida valer a
pena. Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só
tem uma. Tudo teu mesmo: meu
querido credor de Andrade. Obrigado pelo bilhete das quatro da manhã. Hora de
nascer!
02.08.2020
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