Andar São Paulo! Foi o que fiz nos anos 1970. Tinha tempo de sobra, um guia “Quatro Rodas”, novinho em folha e, nenhuma direção. Apenas desejos! Nunca havia subido em um ônibus urbano, na vida. Porta da frente ou porta de trás? Até hoje esqueço o que de fato nunca aprendi. Morava na Rua Frederico Abranches, n. 355, no bairro de Santa Cecília, próximo da igreja matriz e da belíssima Loja Clipper. Assisti ao início da construção do Metrô da cidade e a destruição do bairro. Na lista dos desejos por conhecer: O Museu do Ipiranga, o Instituto Butantã, o Shopping Iguatemi, a Rua Augusta, o Aeroporto de Congonhas, o Largo do Arouche, o Estádio do Pacaembu, a Praça da República e sua Feira Hippie, aos domingos. Minha mãe Nilce havia estudado no “Colégio Caetano de Campos”, no coração da praça. Era o seu sonho de moça, rever o colégio. Foi o que fiz. Anotei e fui até lá. Gritei. “Mãe, eu estou aqui!”. Depois, subi pela Rua dos Timbiras - na direção da Avenida São João - e dei de cara com o ator, radialista e apresentador Paulo Gracindo (Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, 1911 - 1995),“O Bem Amado!”. Não acreditei. Era ele! Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, alinhadíssimo, terno branco e chapéu de sol, no meu caminho. “Prefeito. Prefeito!”. Gritei. Ele parou e me olhou, sorrindo. “É você?". Pergunta idiota. Gracindo, respondeu: "Eu mesmo!" Fez pose de político, tirou o chapéu Panamá da cabeça - abanou-o no ar da sorte - e seguiu o seu caminho. Entrou num hotel, colado ao Restaurante Giovani, casa de massas. Vez por outra, ia lá comer “talharini, com dois ovos fritos”. Um Camões! Paulo Gracindo estava acompanhado - de braço dado - com uma moça jovem, bonita, de vinte e poucos anos. Odorico Paraguaçu - personagem ficcional do “O Bem Amado” do romancista, dramaturgo e autor de telenovelas, Dias Gomes (Alfredo de Freitas Dias Gomes, 1922 - 1999), - era dono de uma fazenda de azeite de dendê e prefeito da cidade de Sucupira. Corrupto, demagogo e maravilhoso. Elegeu-se com a promessa de construir um cemitério na cidade. Inaugurá-lo, era o problema. Precisava de um “defunto fresco” e ninguém, desde sempre, morria mais na cidade. Pensou - na trama - até em importar um defunto. Sem sucesso. No elenco, além de Paulo Gracindo, Lima Duarte, Jardel Filho, Emiliano Quiroz, Sandra Bréa, Ida Gomes, Carlos Eduardo Dolabella e outros. Odorico Paraguaçu - O Bem Amado - meu primeiro chapéu de sol, na Pauliceia Desvairada, morreu no dia 4 de setembro de 1995, aos 84 anos de idade.
João Scortecci