Ano de 1967, no melhor dos meus 11 anos de idade. A cidade de Baturité não fica longe da capital, Fortaleza. 78 quilômetros de distância. De Rural Willys - modelo 63 - uma “barbada”. Reencontrar seu padrinho, o comendador Ananias Arruda (1886-1980), era para o meu pai Luiz Gonzaga do Carmo Paula (1923-2007), uma alegria e um dever de eterna gratidão. Meu pai Luiz, na sua meninice, havia sido aluno interno na Escola Apostólica dos Jesuítas, construída no Sítio Olho D'água, em terreno doado aos Jesuítas, pelo seu respeitado e querido padrinho. Um homem santo! O Papa Pio XI o autorizou a manter no Oratório de sua residência - Avenida Sete de Setembro 1.097, centro, Baturité/CE - o Santíssimo Sacramento, privilégio que foi renovado pelos Papas Pio XII, João XXIII e Paulo VI, até a data de seu falecimento. Eu não vou, protestei. “Vai.” O que vamos fazer em Baturité? “Visitar o canteiro de obras do Santuário de Nossa Senhora de Fátima”. Quem vai? “Nós e sua avó Sara”. Sei. Posso levar a filmadora 8 mm? “Depende.” O comendador Ananias Arruda era viúvo e não tinha filhos. Havia sido amigo do meu avô paterno João Batista de Paula, o Batista da Light, fornecendo lenha do maciço de Baturité para queimar nas turbinas termoelétricas da usina do Mucuripe, de Fortaleza. Saímos cedo. Chegamos a Baturité por volta das 10 horas da manhã. Sol forte e um calor dos infernos. Pai, o que é isso? “Não mexe. Não está vendo? É a cabeça da santa!” Caiu? “Não”. “Não filma. Pedido do Comendador”. A cabeça da santa estava na varanda da casa esperando a chegada do guindaste. “Não filma. Desliga!” Deixamos as malas e fomos direto para o canteiro de obras do santuário de Nossa Senhora de Fátima, que depois de pronto teria 12 metros de altura. Pai, posso agora filmar a santa sem cabeça? “Não. Já disse.” Na volta, já perto do sol do meio dia, fomos visitar as oficinas tipográficas do jornal A VERDADE, fundado no ano de 1919. Foi na tipografia que vi - pela primeira vez na vida - um jornal sendo diagramado nas caixas de tipos e depois impresso numa prensa de dar inveja ao Mestre Gutenberg. Ela também imprime livros? “Talvez.” Posso filmar? “Aqui pode”. Duas certezas registradas na memória do ano de 1967: a cabeça da santa no chão da varanda da casa do Comendador Ananias Arruda (foto) e as oficinas tipográficas do Jornal A VERDADE. “João, você filmou a cabeça da santa?” Não. Juro que não! Menti. A cabeça da santa está até hoje “decapitada” no carretel de número 1. Ananias o meu anjo tipográfico.
12.01.2021
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