Mãe, o que é puxa-saco? “Um bajulador!” Respondeu. “Por quê?” Insistiu. Os jangadeiros da ponta da praia estão dizendo que o Osmar (Osmar Caetano da Cunha) é puxa-saco? “Esquece isso. Não dê ouvidos a fofocas!”. “Osmar é nosso caseiro e bajular os patrões faz parte do seu trabalho.” Justificou. Durante um bom tempo imaginei o coitado do Jangadeiro Osmar puxando - de um lado pra outro - um imenso e pesado saco de areia do mar. Inocência! Um dia - do nada - papai Luiz me contou o significado “social” de puxa-saco. Osmar era casado. Tinha uma filha pequena de nome Marilac e o seu sonho era um filho homem. Osmar tinha verdadeiro fascínio e admiração pelo meu irmão José Henrique e fazia todas as suas vontades e desejos. E nós abusávamos. Foi Osmar que nos ensinou tudo do mar. “Dr. Luiz, minha mulher está grávida! Se nascer macho vai se chamar José Henrique!” E assim foi. Foi naquele dia que descobri - de fato - o significado social de puxa-saco. A “Prainha” é uma praia do município de Aquiraz - vila criada pela ordem régia de 1699, sede da capitania do “Ceará Grande” até o ano de 1726 -, no Ceará. Está situada na foz do rio Catu, localizada a 26 km da Capital, Fortaleza. Hoje possui ampla infraestrutura turística, com hotéis, pousadas, casas de veraneio, restaurantes e bares. Nos anos 60 - quando Papai Luiz construiu uma pequena casa num terreno da Marinha Brasileira - era uma pequena vila de pescadores, não tinha água encanada, banheiro e nem luz elétrica. Água tinha que puxar na bomba manual, geladeira era a gás e a iluminação de lampião com querosene. Dormíamos em redes, comíamos arroz branco, com farinha de mandioca e peixe fresco. Eu e meu irmão José Henrique pescávamos no dorso das jangadas, dormíamos em cordas, caçávamos com espingardas de cartucho maçaricos, tetéus, cobras, lagartos e inhambus e - vez por outra - desenterrávamos “bombas” não detonadas lançadas pelos aviões de combate da Força Aérea Brasileira. Arrancávamos os demônios da areia - ainda fumaçando - puxando pelo rabo do foguete. Papai vendeu a casa da Prainha no início dos anos 70, quando Eu e meus irmãos já morávamos fora do Ceará. No ano de 2011, por ocasião do casamento da minha irmã caçula Ana Cândida, Eu e meu irmão José Henrique organizamos um passeio até a Prainha. A rua onde ficava a casa - no meio do nada - hoje homenageia o queridíssimo Pescador Osmar. Nosso eterno e inesquecível Dragão do Mar.
24.04.2021
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