Fui, na infância, o “Duke” dos trejeitos. Um em especial: ajustar e afivelar na cintura - com classe e trejeito - o cinto de couro do revólver. Fazia assim - sempre - antes de sacar o revólver, carregado de espoletas, para depois, num piscar de olhos, “pistolar”, os inimigos do velho oeste. Era um sinal involuntário - um tique nervoso - de que iam voar balas! “Filho, o que você quer de presente no Natal?”. “Quero dois revólveres e duas cartucheiras do John Wayne e muita espoleta!” Repetia, sempre. “De novo?”. “Sim!”. “Pede outro presente”. “Não!”. “Quer ganhar meias?”. “Não!”. “Meias é castigo!”. “E uma caixa lenços?”. “Não.”. Já disse!”. “E uma boa sova de cinto?”. “Também não”. Mamãe Nilce falando: “O seu quarto parece um paiol de guerra de tanta espoleta, chilena, rojão e bomba rasga lata.”. “Quer explodir tudo?”. “Talvez”. “Menino, o que você disse?”. “Nada”. “Mãe, e se o quarto explodir e tudo pegar fogo?”. “Você morre queimado!”. “Posso então pedir o meu último desejo?”. “Pode”. “Quero dois revólveres e duas cartucheiras do John Wayne”. “Juro que no ano que vem peço outro presente”. “Você jura?”. “Juro”. John Wayne, o Duke (Marion Robert Morrison, 1907 - 1979), faleceu em 11 de junho de 1979, aos 72 anos de idade. Foi na minha infância de “balas e espoletas” o meu cowboy e é até hoje o responsável pela guarda da casa das armas.