No dia 9 de julho comemora-se o aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, também conhecida como “Guerra Paulista”, que tinha por objetivo derrubar o governo provisório e golpista de Getúlio Vargas (1882 - 1954) e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. O “estopim” do levante armado, precipitado pela revolta popular, deu-se após a morte de quatro jovens - Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo - por tropas getulistas, durante um protesto contra o Governo Federal. No dia 23 de maio de 1932, um grupo de manifestantes tentou invadir a sede do PPP - Partido Popular Paulista (ex-Liga Revolucionária), grupo político-militar encabeçado pelo argentino Miguel Costa (1885 - 1959), sustentáculo de apoio ao regime de Getúlio Vargas. O embate deu-se no centro da cidade de São Paulo, na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República. O grupo político-militar resistiu à invasão com o uso de armas e granadas. Após a “fuzilaria”, muitos feridos e quatro mortos. Um quinto manifestante, de nome Orlando de Oliveira Alvarenga, foi ferido, vindo a falecer três meses depois e não teve seu nome associado ao movimento: MMDC. Cinco dias depois da eclosão do movimento Constitucionalista, o governador aclamado, o advogado, diplomata e político Pedro de Toledo (Pedro Manuel de Toledo, 1860 - 1935), decretou a autorização de emissão do “dinheiro paulista” lastreado de acordo com as reservas em ouro nos cofres do estado. São Paulo imprimiu papel-moeda, cédulas de 5, 10, 20, 50, 100 e 200 mil réis. Meu saudoso tio Eolo Ventura, marido da tia Margô (Margarida de Paula Ventura), irmã mais velha do meu pai Luiz Gonzaga, foi soldado constitucionalista e - em almoços de família - contava, sempre, a história da noite tensa que viveram durante o conflito de 32. Seu agrupamento estava acampado na fronteira do estado paulista com o de Minas Gerais, quando receberam um alerta da presença das tropas de Getúlio, nas cercanias. Pânico! Por volta das três horas da madrugada escutaram uma movimentação estranha e o barulho de galhos quebrados. Mesmo com a ordem de não atirarem, abriram fogo. Em menos de trinta minutos “detonaram” toda a munição do agrupamento. Uma tragédia militar. Depois do silêncio e do breu da noite, um pequeno grupo de soldados recebeu a missão de vasculhar a área. Meia hora depois escutaram o apito de silvo breve - que significa: sigam em frente, caminho livre! O destacamento encontrou uma vaca morta, perfurada de balas. Depois das risadas e da sobremesa, Eolo Ventura, o tio amado por todos, sussurrava, então, o melhor da história: “A vaca havia sido alvejada 32 vezes!”. Memórias de Pantaleão, herói de 1932 e de uma vida inteira.
João Scortecci
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