O editor de livros argentino Boris Spivacow (José Boris Spivacow, 1915 - 1994) fundou, no ano de 1966, o CEAL - Centro Editor de América Latina, uma das mais importantes editoras de Buenos Aires e do mundo. Sua destacada atividade no mundo editorial lhe rendeu muitos reconhecimentos e homenagens, incluindo o Prêmio Sul-Americano de Ciências Sociais (1989) e o título de Professor Honorário da Universidade de Buenos Aires (1994). O CEAL nasceu durante a ditadura militar do General Juan Carlos Onganía Carballo, presidente da Argentina, entre 29 de junho de 1966 e 8 de junho de 1970, quando foi deposto por um novo golpe de estado, comandado pelo general Alejandro Agustín Lanusse. A casa editorial funcionou até 1995, ano em que teve de fechar as portas. O CEAL se caracterizou no mercado pela qualidade de seus escritores e pela prática de preços sociais para seus livros. Em 26 de junho de 1980, num terreno vazio de Sarandi - província de Buenos Aires - vários caminhões descarregaram 1,5 milhão de livros - todos publicados pelo Centro Editor de América Latina - que foram queimados numa operação selvagem da ditadura militar argentina. Em “Historia universal de la destrucción de los libros”, o escritor, poeta, ensaísta e diretor da Biblioteca Nacional de Venezuela, Fernando Báez, relata como a escritora argentina Graciela Cabal (Graciela Beatriz Cabal, 1939 - 2004) resumiu o clima que imperava durante a ditadura militar Argentina: “No início tivemos muito medo; eu, cada vez que ia para o CEAL, dizia à minha vizinha de cima que, se até certa hora não retornasse, levasse meus três filhos à casa de minha mãe. Ao mesmo tempo nos acostumávamos a trabalhar nesse contexto de terror. O escritório onde eu me sentava - por exemplo - tinha um buraco, deixado pelo impacto de uma das bombas atiradas contra a editora, e eu colocava os papéis ao lado. De repente, nos chamavam do depósito, avisavam que havia uma batida policial e que vinham para a redação. Nós nos preparávamos, removíamos pastas, escondíamos agendas no jardim, queimávamos documentos. Dizíamos aos vizinhos que íamos fazer um churrasco e queimávamos papéis na banheira, que ficava escura de fumaça. Também as banheiras de nossas casas estavam escuras. Rasguei e queimei muitos livros, e foi uma das coisas das quais nunca pude me recuperar. Destruía e chorava porque não queria que meus filhos me vissem, porque não queria que contassem na escola, porque não queria que soubessem que sua mãe era capaz de destruir livros. Porque sentia muita vergonha.” Na Argentina, no dia 17 de junho, comemora-se o Dia Nacional do Editor, em homenagem ao editor Boris Spivacow, fundador do CEAL - Centro Editor de América Latina.
João Scortecci
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