O poeta e memorialista Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira, 1930 – 2016) nasceu no dia 10 de setembro e, se vivo fosse, estaria completando 93 anos de idade, em 2023. Sobre o seu pseudônimo, declarou o seguinte: "Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome". Conheci-o no lançamento do seu livro Poema Sujo (1976), no Rio de Janeiro, e o reencontrei – dois ou três anos depois – num bate-papo, durante a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Simples e reservado. Educadíssimo! Na época do nosso segundo e último encontro, tive vontade de lhe perguntar sobre a poesia do outro José Ribamar (José Ribamar Ferreira de Araújo Costa), também maranhense, codinome José Sarney, autor de Ma-rimbondos de Fogo. Não tive coragem. Algum motivo específico? Não. Num sábado, nos anos 1980, na casa do escritor e crítico literário Fábio Lucas, a escritora Lygia Fagundes Telles nos confidenciou: “Marimbondos de fogo é um belíssimo livro.” Silêncio. A obra já rece-beu críticas negativas, entre elas a do poeta, desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e jornalista Millôr Fernandes (1923 – 2012), que descreveu Marimbondos de Fogo como "um livro que quando você larga não consegue mais pegar". Outro dia dei de cara com um exemplar da obra. Eu o retirei da picada do ferrão. Guardei-o na estante dos maribondos de fogo. Aqui com os meus ossos: devo cutucar ou não? “Mel, em se plantando, tudo dá!”
João Scortecci
João Scortecci