A Scortecci Editora nasceu no mês de agosto de 1982, na loja 13, da Galeria Pinheiros, localizada na Rua Teodoro Sampaio, 1704, na cidade de São Paulo. Eu mesmo cuidei da pintura da loja e da arrumação e fixação das estantes brancas de aço para colocação dos livros publicados e, então, comercializados. Iniciei o negócio com perto de 40 títulos, na maioria livros de poesia. Na loja, de 30 metros quadrados, além das estantes que cobriam as paredes, do chão até o teto, havia uma mesa, uma poltrona, duas cadeiras “interlocutoras”, uma máquina de escrever IBM elétrica e com esfera, um arquivo de aço de duas gavetas e pastas suspensas, um fichário de aço da Kardex, uma linha telefônica e duas vitrinas com livros, pendurados em um varal com pregadores de roupa. “Olá. O que vai ser aqui?” Não havia ainda fixado o letreiro: “João Scortecci Editor”. Parei o que estava fazendo e fui até a porta da loja atender o que viria a ser, na história da editora, o primeiro “chamado”. “Vai ser uma editora de livros”, respondi. “Que legal. Eu sou escritor! Quando vai ser a inauguração?”, perguntou. “No próximo dia 13, sexta-feira, das 19h às 22h. Você está convidado”. E o papo continuou. “Mora em Pinheiros?” “Sim. Aqui no prédio da Galeria.” “E o seu nome?” “Jorge Miguel Marinho”, respondeu. Ficamos amigos. Jorge foi o primeiro escritor a visitar a Scortecci e durante dez anos - até o ano de 1992 - nos visitava quase diariamente. Visitas rápidas, tempo para um cigarro e uma espiada na vitrina, em um ou outro livro novidade. Carioca, nascido em 8 de julho de 1947, de família de poucos recursos, teve contato com a literatura tardiamente, aos 15 anos de idade. Escritor, roteirista, ator e professor, com graduação em Letras e mestrado em Literatura pela Universidade de São Paulo e licenciatura em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciência e Letras Nove de Julho, era autor novo, quando nos conhecemos. O seu primeiro livro - coletânea de versos - “O talho” havia sido lançado no ano anterior, em 1981, pela Loyola. Jorge construiu uma carreira literária brilhante. Publicou dezenas de livros e conquistou vários prêmios. “Na curva das emoções” (1989) foi premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e pela Associação Paulista de Críticos de Arte. “Te dou a lua amanhã” (1994) e “Lis no peito - um livro que pede perdão” (2006) receberam prêmios “Jabuti”, da Câmara Brasileira do Livro. “Lis no peito” foi também premiado pela FNLIJ e integrou o Catálogo de Bologna e o Catálogo White Ravens da Biblioteca de Munique. Jorge Miguel Marinho faleceu em 18 de junho de 2019, aos 72 anos. Talvez tenha sido o amuleto da Scortecci de “olhar e validar com o coração” o meu letrado sonho.
09.10.2021
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