Quando menino - isso no Ceará dos anos 1960 -, ganhei de presente uma coleção de livros - capa dura, três volumes - sobre a Segunda Guerra Mundial. Nem preciso dizer: li e reli sobre a epopeia, uma dúzia de vezes. Sobre a “Operação Overlord” e a “Invasão da Normandia”, uma centena de vezes, talvez. Sou exagerado! Para quem não sabe - eu conto - tenho fascínio pelo Império do Japão, seu povo e sua história. Minha coleção de selos do Japão é uma das maiores e dorme num álbum especial, de luxo. Acho que já vivi por lá - em outra “encadernação”. Um capítulo especial - que mereceu atenção - foi sobre os balões bomba, os “Fusen Bakudan” de hidrogênio, levados pelo vento e lançados pelos japoneses durante a segunda grande guerra. Estima-se que cerca de 9 mil deles tenham sido lançados pelo Japão, em retaliação ao bombardeamento de Tóquio e Nagoya, pelos Estados Unidos. Os balões carregavam bombas de 12,80 m de diâmetro e 548m³ de volume, detonador de 19,50 m, com tempo de queima de 1hora e 22 minutos. Quando completamente cheios, continham aproximadamente 540 m3 de hidrogênio. Verdadeiras bombas voadoras! A ideia fracassou, em parte. Poucos balões conseguiram chegar à costa dos Estados Unidos e explodir. O resultado final foi ínfimo e inexpressivo, para o todo de uma guerra. A maioria dos balões perdeu-se na imensidão do oceano Pacífico. Os norte-americanos - estrategicamente - não noticiaram nos jornais os ataques com balões-bomba, e os japoneses, então, desistiram do projeto. Contei a história dos balões-bomba para o meu pai Luiz Gonzaga, que, durante a Segunda Guerra Mundial, pertenceu ao “Regimento Sampaio” e por pouco - não embarcou para combater na Itália. Foi surpresa, a minha, claro, papai saber da história dos balões-bomba e retrucar, com sangue nos olhos, que um desses balões japoneses acabou caindo na cidade de Fortaleza. Quase perdi o fôlego! “Pai, é verdade?”. Meu papai Luiz Gonzaga adorava contar “causos” e o fazia como ninguém. A mesma história - a cada contação - aumentava ou diminuía de extensão e mudava de rumo ao gosto do freguês e, principalmente, ao sabor da curiosidade alheia. “E tem mais - disse-me - você sabia que, naquele mesmo ano, choveu peixe na Praça do Ferreira, no centro da cidade?”. “Mentira! Isso é impossível”, insisti. “Verdade, eu juro.”. Deu-me, então, a explicação científica para o fenômeno, que envolve “trombas marinhas” e “fortes ventos”, graças a uma combinação de depressão na tromba e da força exercida pelos ventos, numa única direção. Contou-me, também, registros na história de chuva de rosas, sapos e pequenos animais. “E os peixes? O que foi feito deles?”, indaguei. “O prefeito - é o que disseram, na época - mandou recolher tudo e incinerar.”. “Incinerar?”. “Sim. A notícia não saiu nos jornais e o incidente, na época, foi abafado.” “Falavam de uma operação secreta do Eixo - Alemanha Nazista, Reino da Itália e o Império do Japão - com o objetivo de “envenenar” o povo do Ceará, como vingança ou algo assim. O Ceará foi o estado brasileiro que mais enviou soldados para lutarem na 2ª Guerra Mundial. “E o balão-bomba: onde está?”. “Não sei.”. “Não?”. “Tiraram fotos da chuva de peixes na Praça do Ferreira?”. “Não sei.”. “Que merda, pai!”. Minha mãe Nilce, que até então - de olho curto - escutava o embate, resmungou: “João Ricardo, não diga palavrões. É feio. Vá lavar a boca com sabão!”. “Não.”. “Então não diga mais palavrões.”. Disse. “Pai, e o balão-bomba de hidrogênio?”. “Já disse, filho, não sei.”. “Porra, pai. Que merda! Santa Maria de Deus, que merda!”.