D. Lygia, professora do 5º ano primário no Colégio Cearense, era exigente, dedicada, com fama de brava, mas não perdia o zelo pelos seus alunos. Professores assim - como D. Lygia - marcam nossas vidas. Lembro-me das suas aulas de Geografia e da “decoreba” que era estudar e resfolegar, em voz alta, os rios brasileiros e seus afluentes. Não satisfeita, exigia, ainda, que disséssemos, de “pronto” e na “lata”: nascente, foz, extensão, perenidade ou não, margem direita, margem esquerda. E, se não bastasse, também os estados que o “danado” das águas banhava. Eu era “bamba” nos rios da Amazônia e, em especial, nos rios do Ceará: Jaguaribe, Mundaú, Pacoti, Acaraú, Pajeú, Ceará, Cocó, Poti e outros. D. Lygia dava aula segurando, em uma das mãos, uma vareta de professor. Ágil e pontual, a vareta tinha lá os seus encantos, talvez mágicos, pensando hoje nas feitiçarias de Harry Potter. Jurava que a “ferramenta” estivesse hoje proibida em sala de aula, comparada, por alguns educadores, com uma arma branca. Foi surpresa encontrar, na Web, oferta de venda de uma infinidade delas. A pesquisa me fez lembrar de um professor de Física, quando, já morando na cidade de São Paulo, aluno do Mackenzie. Ele usava uma antena de fusca, como vareta de professor. Nossa relação ficou “tensa”, depois que lhe perguntei — durante uma aula de termodinâmica — se a tal antena havia sido fruto de um roubo juvenil, em busca de um anel de “brucutu”. Ele não gostou. Acontece! O que eu sei de Geografia — não é muito — devo à professora Lygia. Visitando, no Facebook, o endereço “Memórias do Colégio Cearense”, encontrei sua foto, junto às de outros professores, entre eles: Onélio Porto, indianista e professor de Educação Física, e Yeda, professora de Português. Prestei o “Exame de Admissão” no ano de 1967, e, chegar ao curso ginasial foi um desafio prudente. Hoje, lendo sobre as sutis diferenças entre “curso de água” — caminho, direção — e “fluxo de água” — volume, capacidade hídrica —, lembrei-me da professora Lygia, do Colégio Cearense, dos irmãos Maristas Urbano, Luiz Marques, Armando, Valentim, Abdon, Armindo, Ovídio, Mardônio e outros, dos amigos “vividos” durante os anos de 1963 a 1971. No “curso” natural das lembranças de infância, das reminiscências de menino “brucutu”, pescando cará e mussum preto, no vale do rio Pajeú. No fluxo mágico das águas, de rios, lágrimas e memórias do tempo.
15.01.2022
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