O escritor, diplomata e acadêmico maranhense Graça Aranha (José Pereira da Graça Aranha, 1868-1931) é considerado um autor pré-modernista. Seu romance “Canaã”, publicado em 1902, aborda a imigração alemã no estado do Espírito Santo, por meio do conflito entre dois personagens principais, Milkau e Lentz, que representam diferentes linhas filosóficas. Temas como opressão feminina, imperialismo germânico, militarismo, corrupção dos administradores públicos, ostracismo, conflito de adaptação à nova terra são tratados nesse romance. “Canaã” foi inspirado no naturalismo filosófico alemão e inaugurou uma nova fase do romance brasileiro, com a fusão entre Realismo e Simbolismo. Graça Aranha foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, na capital paulista, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, quando se realizaram atividades artístico-culturais, envolvendo artes visuais, literatura, teatro, cinema e música. Houve ainda exposições, concertos, palestras, conferências e discursos de escritores, como: Ronald de Carvalho, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Na abertura do evento, Graça Aranha proferiu a conferência intitulada "A emoção estética da arte moderna", defendendo uma arte, uma poesia e uma música novas, com algo do "Espírito Novo" apregoado por Apollinaire (Guillaume Apollinaire, 1880-1918), escritor e crítico de arte francês, um dos mais importantes ativistas culturais das vanguardas do início do século XX, conhecido particularmente por sua poesia visual, fundindo escrita e disposição gráfica das palavras, e por ter escrito manifestos importantes para as vanguardas na França, como o do Cubismo, além de ser o criador da palavra “Surrealismo”. Na conferência de abertura da Semana de 1922, Graça Aranha afirma: “Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição, que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de ‘horrores’. Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida, se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros ‘horrores’ vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado (...).” O maranhense Graça Aranha rompeu com a Academia Brasileira de Letras em 1924, a qual acusou de “passadista” e marcada por total imobilismo literário. Ele chegou a declarar: "Se a Academia se desvia desse movimento regenerador, se a Academia não se renova, morra a Academia!". Graça Aranha morreu 9 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, no dia 26 de janeiro de 1931, aos 62 anos de idade.
João Scortecci