Esse tal de Parmênides é deveras um alfenim azedo. Uma moeda de meia pataca! Para ele o Ser é — e não pode não ser — limitado e ilimitado, dividindo-se o mundo em dois elementos: luz e trevas, positivo e negativo, vida e morte. Parmênides (530 a.C. - 460 a.C.), filósofo grego natural de Eleia, cidade grega na costa sul da Magna Grécia, via as mudanças físicas que ocorrem no mundo como uma mistura da qual participam o Ser e o não Ser. Eis a questão! Para o grego Parmênides, o nada — não Ser — não é e não pode ser. Um contraste entre a verdade — que não é — e a aparência — que pode pensar ser. Um enrosco! Pensar e ser são o mesmo! Pensar sobre nada é não pensar, da mesma forma que dizer nada é não dizer. E mais: o não ser não pode ser pensado nem enunciado. Tenho dito! Aqui com os meus ossos: eu existo? Cadê o exemplar do meu René? Deve estar na estante da sala ou teria ele sido um Descartes do lote que enviei para o sebo do Messias? Talvez. “Ego cogito, ergo sum”. Volto para as dualidades da morte. Salve Parmênides! Entrei de vez no jogo. E agora? Difícil largar o veneno e não pirar. Continuo respirando, acho. Uma coisa puxa outra e mais outra. Esse filósofo Parmênides é um alfenim jacaré — massa branca de açúcar e óleo de amêndoa doce em forma de coração ferido. Na infância tinha alfenim de tudo que era formato: flores, animais, cachimbos, peixes, pombinhos, galinha chocando, homens, sapatinho, chave, margarida, menina, canário e jacaré. Jacaré de rabo grande! Será que Parmênides um dia provou do doce da existência? E se o Ser fosse diferente de si mesmo, ele não seria o que é? O Ser não pode não ser. Tenho dito! O Ser é um. Não podemos conceber que exista outro Ser. O primeiro Ser teria que não ser o segundo Ser e teria que ser compreendido como não sendo. Justo! Além disso, é absurdo pensar que o Ser não é. Nunca duvidei! Por isso, só pode existir um Ser. Por fim e já concluindo, o Ser não pode ser gerado. Nada pode ser gerado do nada. O nada não é e não pode ser. Então ele não pode dar origem ao Ser. Se fosse gerado de outro Ser, isso seria admitir que existem dois seres e um deles seria o não Ser de outro, e isso é impossível. Conclusão: o nada é um jacaré de açúcar e óleo de amêndoa que não existe. E pensar que fui na infância uma criança feliz.
João Scortecci