Doa a quem doer! Gosto de “estudar” o significado de uma palavra, sua origem, seu carma imaterial, seu peso e som, sua energia e força, quando escrita — num bom texto — ou quando pronunciada e dita, por uma boca inteligente, sábia e oportuna. Meu pai dizia, sempre: “Palavras usadas fora do contexto não ajudam e até atrapalham a razão”. Algo assim. Depois, justificava, dizendo: “É uma merda!”. Ríamos muito. Quando a piada era boa — sempre era — concluía a deixa, dizendo: “Não coloque a palavra ‘merda’ antes de nada. Sempre depois! Ela no início, vão pensar que é sua, e você vai acabar sendo, queira ou não, o responsável pela cagada da história toda. Depois — depois e depois — ela deixa de ser somente sua e ganha o direito de ser de todos: uma cagada coletiva!”. Quando uma palavra novíssima entra na “cachola”, eu anoto e, quando dá, busco o seu significado. Uma mania antiga. A palavra da vez — de hoje da madrugada — é “teodiceia” (do grego "Deus" e "justiça": "justiça de Deus"), termo derivado do título da obra “Ensaio de Teodiceia”, do filósofo e polímata alemão, Leibniz (Gottfried Wilhelm Leibniz, 1646 - 1716), que sustenta a existência de Deus, com base na discussão do problema da existência do mal e de sua relação com a bondade de um deus onisciente e onipotente. Leibniz é figura central na história da matemática e na história da filosofia, com sua defesa do racionalismo. "Teodiceia”, entre outras coisas, busca uma resposta ao “Paradoxo de Epicuro" — atribuído ao filósofo grego Epicuro de Samos — e ao "problema do mal". Ele mesmo! Epicuro argumenta contra a existência de um deus que seja ao mesmo tempo onisciente, onipotente e benevolente. A lógica do paradoxo — sob o jugo do trilema — rege que, se duas delas forem verdade, excluem automaticamente a outra, então não pode existir um deus com as três características: onipotência, onisciência e onibenevolência. Acredita-se que o teólogo e filósofo Santo Agostinho (Aurélio Agostinho de Hipona, 354 - 430 d.C.) tenha desenvolvido a primeira forma da “teodiceia”, em resposta ao paradoxo. Como tal, ele tenta explicar a probabilidade de um onipotente (todo-poderoso) e onibenevolente (todo-bom), em meio a evidências do mal no mundo. A bondade e a benevolência de Deus, segundo a “teodiceia agostiniana”, permanecem perfeitas e sem responsabilidade pelo mal ou pelo sofrimento. Santo Agostinho tentou e se esforçou exaustivamente por compreender e desvendar o mistério da “Santíssima Trindade”, e uma de suas principais obras, "Sobre a Trindade", é o resultado desse esforço. Após muito tempo de reflexão e trabalho, chegou à conclusão de que nós, humanos, devido à nossa mente extremamente limitada, nunca poderíamos compreender e assimilar plenamente a dimensão de Deus, somente com as nossas próprias forças e o nosso raciocínio. Solução para o trilema ou enigma: só será possível desvendá-lo, quando, na vida eterna e no paraíso, encontrarmos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Até lá, para não atrapalhar a razão: que merda!
João Scortecci
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