Pesquisar

JOSÉ GALVÃO, JANUÁRIO LEAL E JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, O TIRADENTES

O gigante José Galvão, conhecido como “Montanha” – de pele morena, cabelos compridos e barba cerrada – era o líder do bando mais temido da região do Alto da Mantiqueira, a “Quadrilha da Mantiqueira”. O bando era organizado e numeroso. Matava os policiais para roubar as fardas e com elas realizavam falsas blitze. Tinham rede própria de informantes, espalhados pelas vilas, ao longo da Estrada Real (1.630 quilômetros de extensão, que atravessava as províncias de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, passando por mais de 100 vilas ou cidades, ligando Ouro Preto a Paraty), rota do ouro e de diamantes, no Brasil Colonial, nos primeiros 60 anos do século XVIII. A maior parte dos ataques acontecia à noite. Ninguém era poupado, fosse homem, mulher, criança ou idoso. A quadrilha foi desmantelada em 1786, a partir das diligências feitas pelo Alferes Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), o Tiradentes. Outros bandos menores, não menos temidos, também pilhavam a Coroa e os comerciantes da região. Eram eles: bando “Mão de Luva” (porque o chefe da quadrilha usava luvas), contrabandistas que operavam em Minas Gerais e no Rio de Janeiro; bando “Vira-saia”, que atuava no norte de Minas Gerais, perto da Serra do Grão Mogol e que dizia ter pacto com o diabo; e a quadrilha do terrível “Sete Orelhas”, chefiada por Januário Garcia Leal, que recebeu esse nome porque portava um colar com sete orelhas humanas, arrancadas dos homens que mataram seu irmão. Foram várias as tentativas de se conter a criminalidade. A maioria com pouco ou nenhum sucesso. Em 1766, o Rei de Portugal, Dom José I, proibiu os sítios volantes e ranchos, sem estabelecimento sólido, e determinou que os indivíduos dispersos deveriam se estabelecer em povoações civis. Em 1781, o dentista, tropeiro, minerador e militar Tiradentes assumiu o patrulhamento da Serra da Mantiqueira, com a missão de estudar as terras, rios, fazer cartas geográficas dos sertões e traçar o perfil dos habitantes da região. A partir de seus estudos, foram reconhecidos e oficializados caminhos que ligavam as minas ao Rio de Janeiro e estabelecidos os locais estratégicos em que deveriam ser colocados registros, rondas e patrulhas. Com o sucesso da missão e o fim das quadrilhas, em especial a de José Galvão, o prestígio e o respeito da população e dos comerciantes por Tiradentes cresceram, a ponto de causar inveja e incomodar as lideranças da Coroa portuguesa na região. Foi a partir desse período que Tiradentes começou a se aproximar de grupos que criticavam o domínio português e passou a fomentar, a partir de Vila Rica e seus arredores, a independência da província. Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira militar, tendo alcançado apenas o posto de alferes, à época patente inicial do oficialato, Tiradentes pediu licença da Cavalaria em 1787. Além das influências externas, fatores mundiais e religiosos contribuíram também para a articulação da conspiração da Inconfidência Mineira. O sentimento de revolta geral atingiu o ponto máximo com a decretação da Derrama, cobrança de impostos em atraso. Com a constante queda na receita institucional, devido ao declínio da atividade mineradora, em 1789 a Coroa resolveu aplicar o mecanismo da Derrama para garantir o recebimento das receitas oriundas do Quinto, imposto português que reservava um quinto de todo o minério extraído no Reino de Portugal. Os inconfidentes, entre eles o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, marcaram um levante para a ocasião da Derrama em 15 de março de 1789. Antes, porém, que a conspiração se transformasse em revolução, foi delatada aos portugueses pelo Coronel Joaquim Silvério dos Reis, pelo Tenente-Coronel Basílio de Brito Malheiro do Lago e pelo luso-açoriano Inácio Correia de Pamplona, em troca do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda portuguesa. Tiradentes foi então enforcado e seu corpo, esquartejado, no dia 21 de abril de 1792. Seus restos mortais foram distribuídos ao longo de Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (atual Conselheiro Lafaiete). É o que eu – até hoje – não sabia! 

João Scortecci