O deus grego Apolo era filho de Zeus e Leto e irmão gêmeo de Ártemis. Foi Homero (928 – 898 a.C.) – um aedo e personificação coletiva da memória da Grécia Antiga – quem o imortalizou na “Ilíada”, como sendo o deus da divina distância e o protetor dos céus.Apolo foi representado na mitologia vestido de nu e também com animais simbólicos: a serpente, o corvo e o grifo, criatura alada com cabeça e asas de águia e corpo de leão. Apolo é do bem e do mal – lados que se completam – e, até hoje, voa na cabeça da humanidade e no destino do tempo. Na condição de protetor dos céus, Apolo pisou na Lua no ano da graça de 1969, na epopeia alada do grifo 11. Eu, menino de tudo, 13 anos de idade, colado na TV preto e branco da casa do meu tio Zanzão (João Batista Filho), sonhava, em um dia qualquer de futuro, fazer algo igual à epopeia de Neil Armstrong (1930 - 2012) e compor – por fim – os últimos versos para a “Ilíada”, de Homero. Algo assim, às avessas: "Um gigantesco passo para um homem, um pequeno salto para a humanidade". A “Ilíada” é constituída por 15.693 versos em hexâmetro datílico, forma métrica tradicional da poesia épica grega. Com origem na tradição oral, os versos foram compilados posteriormente numa versão escrita, no século VI a.C., em Atenas. O poema foi dividido em 24 cantos – divisão atribuída aos estudiosos da Biblioteca de Alexandria –, cada canto correspondendo a uma letra do alfabeto grego. Tudo isso para então virar a página, ou melhor, voltar ao início da leitura do dia e “desvendar” o que o filósofo e matemático grego Platão (428 - 347 a.C.) quer dizer com a alegoria do “Mito da Caverna”. É uma tentativa de explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos, aprisionados pelos sentidos e pelos preconceitos que impedem o conhecimento da verdade. A alegoria faz parte do “Livro VII”, de sua obra “A República”. “Mito” e “logos” são termos que evoluíram ao longo da história desde a Grécia Antiga. Nos tempos de Homero e Hesíodo (séc. VIII a.C.), esses termos eram sinônimos, com significado de “conto” ou “história”. O livro “A República” foi escrito sob a forma de diálogo sobre o conhecimento, a linguagem e a educação, para a construção de um Estado ideal. O “Mito da Caverna” (conhecido também como “Parábola da Caverna”) é um dos textos filosóficos mais debatidos e conhecidos pela humanidade. Nele, estão as bases do pensamento platônico, o conceito de senso comum em oposição ao senso crítico e à busca pelo conhecimento verdadeiro. A vida dentro da caverna – dentro da caixinha, na percepção da Internet hoje – representa o mundo sensível, aquele experimentado a partir dos sentidos, onde reside a falsa percepção da realidade, enquanto a saída da caverna representa a busca pela verdade, o chamado "mundo inteligível", alcançado apenas pelo uso da razão. Na alegoria, as pessoas estão acorrentadas, sem poderem se mover, forçadas a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver umas às outras ou a si mesmas. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes". O texto é longo e interessante. Oportuno. Para pensar – além da serpente, do corvo e do grifo – como o ser humano pode se libertar da condição mental da escuridão, que o aprisiona na caverna, sufoca-o nas alegorias da ignorância e o impede de ver os céus.
João Scortecci