O poeta, jornalista, político, acadêmico e livreiro Evaristo da Veiga (Evaristo Ferreira da Veiga e Barros, 1799 - 1837), patrono da Cadeira n.10 da Academia Brasileira de Letras, ficou conhecido por ser o autor da letra do "Hino à Independência", com música de D. Pedro I. Evaristo da Veiga passou a se interessar por jornalismo ao visitar as oficinas da Impressão Régia, criada na cidade do Rio de Janeiro, por decreto de 13 de maio de 1808, depois da transferência da família real portuguesa para o Brasil. A partir dessa data, tornou-se possível a compra de livros impressos no Brasil e sua importação de outros países, além de Portugal, por meio de autorização da “Mesa do Desembargo do Paço”, criada no Brasil pelo alvará de 22 de abril de 1808 e que integrava a estrutura do Tribunal da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens, órgão superior da administração judiciária que se instalou no Brasil com a vinda da Corte portuguesa. As obras à venda eram anunciadas no jornal “Gazeta do Rio de Janeiro” ou numa lista impressa nas últimas páginas de algumas delas, prática editorial hoje pouco usada e apenas por algumas editoras. As primeiras máquinas gráficas das oficinas da Impressão Régia foram instaladas nos porões do palácio do diplomata, cientista, político e escritor português Antônio de Araújo e Azevedo (1754-1817), o primeiro Conde da Barca – título nobiliárquico criado por D. João, Príncipe Regente de D. Maria I de Portugal. Evaristo da Veiga era o segundo filho do português Francisco Luiz Saturnino da Veiga (1771-1841) com a brasileira Francisca Xavier de Barros. Tendo chegado ao Brasil aos 13 anos de idade, o pai de Evaristo foi professor régio de primeiras letras e, depois, livreiro na Rua da Alfândega, no centro da cidade do Rio de Janeiro, vendendo livros trazidos da Europa. Foi nessa livraria que o poeta Evaristo da Veiga se tornou um “leitor voraz”. Depois da morte da esposa, em 1823, desejoso de se casar novamente, Francisco Luiz entregou aos filhos, Evaristo e João Pedro, a parte que lhes tocava na herança materna. Os irmãos abriram uma livraria, na esquina das ruas da Quitanda e São Pedro, também no centro da cidade do Rio de Janeiro. Em 1821, no “Diário do Rio de Janeiro”, havia anúncios de oito lojas de livros. Os primeiros anúncios da livraria de Evaristo e João Pedro datam de outubro de 1823, 14 dias antes de D. Pedro I dissolver a Assembleia Constituinte. Em 1828, economicamente independente, Evaristo se separou do irmão e estabeleceu seu próprio negócio, ao comprar a livraria e tipografia do francês Jean-Baptiste Bompard, na Rua dos Pescadores, n. 49. Bompard chegou ao Brasil em 1823 e foi trabalhar como caixeiro na loja de seu primo, o livreiro e editor Paulo Agostinho Martin, filho do famoso livreiro francês Paul Martin, que vivia em Lisboa. Martin é considerado o primeiro livreiro-editor brasileiro, tendo editado livros de variados gêneros nas oficinas da Impressão Régia. Após a morte de Paulo Martin, no final de 1823, Bompard assumiu a livraria, conservando-a até 1828 e vendendo-a, em seguida, para Evaristo da Veiga. Nesse mesmo ano, Evaristo ingressou no “Aurora Fluminense” (1827-1835), jornal de matiz liberal, bimestral – fundado por José Apollinário de Moraes, José Francisco Sigaud e Francisco Chrispiniano Valdetaro – que se constituiu um importante veículo de oposição ao governo de Pedro I. A partir de 1829, Evaristo se tornou proprietário do jornal, pautando seus artigos na defesa do constitucionalismo, do sistema representativo e da liberdade de imprensa. Em 1830, foi eleito para a Câmara dos Deputados pela província de Minas Gerais, reelegendo-se em três legislaturas. Participou ativamente do movimento de 7 de abril, que levou à abdicação de Pedro I, e tornou-se uma forte liderança do Partido Liberal. Monarquista, defendeu as reformas constitucionais e a aprovação do Ato Adicional, lei n. 16, de 12 de agosto de 1834, que alterou a Constituição de 1824, modelou a formação do Estado e teve um importante papel no projeto de instituição e manutenção do Império brasileiro. Em 1832, sofreu um atentado, atribuído aos conservadores, liderados por José Bonifácio de Andrada e Silva e seu irmão, aos quais Evaristo fazia forte oposição. Em 1835, defendeu a candidatura do Padre Diogo Antônio Feijó como regente único. Desiludido com a política e com os rumos da regência que apoiara, em 30 de dezembro de 1835 encerrou o Jornal “Aurora Fluminense”, com oito anos de existência, e, no ano seguinte, retirou-se para Campanha, Minas Gerais. Evaristo da Veiga morreu livreiro, no Rio de Janeiro, em 12 de maio de 1837, jovem de tudo, aos 37 anos de idade.
João Scortecci
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