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NA LINHA DO TEMPO: GARNIER, GARRAUX, LACHAUD, BRIGUIET, DIFEL E RECORD / JOÃO SCORTECCI

A Livraria e Editora Garnier (A B. L. Garnier, anteriormente denominada “Garnier Irmãos”) funcionou na cidade do Rio de Janeiro de 1844 a 1934, como uma das principais casas editoriais da segunda metade do século XIX. Seu presidente, editor, gráfico e livreiro, o francês Baptiste Garnier (Baptiste Louis Garnier, 1823-1893), notabilizou-se por publicar, durante cerca de 20 anos, livros de escritores que se tornaram famosos, como Machado de Assis e outros. Foi o primeiro editor brasileiro a encarar a impressão e a edição como atividades completamente diferentes. Baptiste Garnier chegou ao Brasil em 24 de junho de 1844 e abriu uma filial da Garnier Frères, de propriedade de seus irmãos mais velhos, Auguste e Hippolyte. No início, a Livraria Garnier (na Rua do Ouvidor, no. 69; e, a partir de 1878, no número 71), editava seus livros no Brasil e os imprimia em Paris e em Londres. No início da década de 1870, Baptiste Garnier abriu sua própria tipografia com o nome “Tipografia Franco-Americana”, que deixou o legado de 655 trabalhos de autores brasileiros publicados entre 1860 e 1890, além de várias traduções, do francês, de romances mais populares. Deve-se a Baptiste Garnier o formato francês dos livros que o Brasil adotou: “in-oitavo” (16,5 x 10,5 cm) e “in-doze” (17,5 x 11,0 cm), imitações da firma parisiense Calmann-Lévy, fundada em 1836 e até hoje influente no mercado francês de edições. Em 1891, com saúde precária, Baptiste iniciou negociações para a venda de sua empresa, sem sucesso. Faleceu três anos depois, em 1893. A Garnier passou, então, para seu irmão mais velho, Hippolyte, que residia em Paris. Em 1898, Hyppolite mandou para o Brasil o gerente de loja, o francês Julien Lansac, que nomeou Jacinto Silva como assistente-chefe, o qual teve grande autonomia para trabalhar, devido às dificuldades de Lansac por não conhecer a língua portuguesa. Em 1904, Jacinto Silva saiu da Garnier e foi trabalhar na Casa Garraux, do francês Anatole Louis Garraux, localizada na cidade de São Paulo; e, em 1920, instalou sua própria casa editorial a “Casa Editora O Livro”, que foi, na época, o centro do movimento modernista. Hippolyte Garnier morreu aos 95 anos de idade, em 1911, e Julien Lansac voltou à França, em 1913. A Garnier encerrou as atividades no ano de 1934, quando, então, foi vendida a Ferdinand Briguiet, proprietário da “Livraria de Lachaud”, passando a usar, então, o nome “Livraria Briguiet-Garnier”, a qual permaneceu em atividade até 1951, quando foi comprada pela editora portuguesa “Difel - Difusão Europeia do Livro”. Em 1996 a “Difel - Difusão Europeia do Livro” foi incorporada a outras duas editoras, a “Civilização Brasileira” e a “Bertrand”, formando a “BCD União de Editoras”, posteriormente adquirida pelo Grupo Editorial Record. No mundo dos livros as coisas são assim: mudam de mãos, de lugar, de razão social, mais nunca desaparecem, de uma forma ou de outra. Desconfio tratar-se de trama dos espíritos das letras ou algo de imortalidade e guarda. Vai saber!

João Scortecci