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EPICURO DE SAMOS E O PARADOXO SOBRE O MAL

Hoje – alguns minutos depois das 5 horas da manhã – recebi, pelo WhatsApp, uma mensagem do filósofo grego Epicuro de Samos, azucrinando minha existência, querendo saber a minha opinião sobre o tal paradoxo da existência de Deus. Protestei: “Isso são horas?”. Epicuro não respondeu. Silêncio. Alguns minutos depois, fez outra pergunta: “O mal existe?”. Epicuro começou, então, a enviar várias mensagens, todas pequenas, uma seguida da outra. Parecia perturbado, tirando-me, de vez, do post do dia sobre a incrível marca de 8 bilhões de pessoas vivas atingida pelo Planeta Azul. Epicuro de Samos é um antigo conhecido, muito querido, amizade cultivada em Samos, numa infância na Grécia Antiga. Reencontramo-nos nos anos 1970. Trocamos cartas e depois e-mails. Começamos pelo correio eletrônico do Rocketmail. Tremenda novidade! Com o tempo, mudamos para o Hotmail, depois para o BOL e, durante alguns anos, ficamos escravos do Gmail. Agora conversamos somente pelo WhatsApp. Novos tempos!  Epicuro de Samos – vez por outra – desaparece. Some do mapa. Os gregos são assim mesmo: sentimentais e cheios de mistérios. Quando reaparece, traz consigo questionamentos sobre dogmas, paradoxos e mistérios para eu palpitar, quase sempre sobre coisas que andam perturbando seus miolos. Hoje a pergunta foi sobre o paradoxo da existência de Deus. “Vai ou não vai responder?” Era o Epicuro de Samos, teclando velozmente no WhatsApp, cobrando minha opinião sobre a existência ou não do mal. “Existe ou não?” Antes de responder – que espere, ora bolas! –, tratei de avivar a memória sobre a questão, relendo o trilema de sua concepção sobre o paradoxo da existência de Deus: “Enquanto onisciente e onipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é onibenevolente. Enquanto onipotente e onibenevolente, tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto de mal existe e onde está. Então, ele não é onisciente. Enquanto onisciente e onibenevolente, sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então, ele não é omnipotente”. Epi-curo de Samos não é ateu, apenas rejeita a ideia de um deus preocupado com os assuntos humanos, por consi-derar um fardo demasiado pesado ter de se preocupar com todos os problemas do mundo. Por isso, os deuses não teriam nenhuma afeição especial pelos seres huma-nos, sequer saberiam de sua existência, servindo apenas como ideais morais de que a humanidade poderia tentar se aproximar. Por meio da observação do problema do mal, ou seja, da presença do sofrimento na Terra, Epicuro chegou à conclusão de que os deuses não poderiam estar preocupados com o bem-estar da humanidade. Es-crevi, então, no WhatsApp: “Sim. O mal existe! E anda azucrinando a vida de 8 bilhões de pessoas com nevascas, tragédias, tsunamis e muita desgraça”. Já são 7h35, e Epicuro de Samos ainda não comentou a minha mensagem. Escafedeu-se! Deve estar – onisciente – reescrevendo o seu paradoxo. Provavelmente sim, possivelmente não.

João Scortecci