Eu tinha pouco mais de 10 anos de idade no ano de 1966 e morava em Fortaleza/CE, quando soube da história do monstro da Fazenda Água Verde, na região da cidade de Palmácia, no Circuito Turístico da Serra de Guaramiranga, no maciço de Baturité. O bicho virou manchete nos jornais e na TV, depois dos misteriosos "avistamentos" de uma estranha criatura – rasgando o vento – nas águas do Açude Botija. Testemunhas oculares descreviam a presença do monstro de várias formas: uma tartaruga com chifres, um dinossauro, uma cobra gigante e até um ser medonho, mistura de boi e lagarto gigante, com chifres, pele escura, coberta de pelos pretos, um olho só e sem orelhas. O Açude Botija – desconhecido, até então – passou a ser um grande perigo, e ninguém de boa-fé arriscava frequentá-lo. Tornou-se local de visitação pública, e pessoas chegavam de todos os cantos do Ceará. Uma atração turística! Moradores da região montavam barracas ao redor do açude e vendiam de tudo: cafezinho, tapioca, laranja, cigarro e “lembranças”, com a estampa do monstro. Até uma cachaça - na época - foi batizada com o nome de "Bicho da Água Verde". Mas o "medonho" sempre escapava dos tiros de quem o avistava e da lente das câmeras, de quem tentava – em vão – fotografá-lo. O então prefeito da cidade de Palmácia, Francisco Damasceno Filho, chegou a oferecer um prêmio de 10 mil cruzeiros a quem conseguisse matar a fera. Encomendou – é o que diziam – um barril de álcool para preservar o bicho, quando a fera, fosse, então, abatida. Muita doideira! A captura do animal se deu – finalmente – no mês de setembro daquele mesmo ano. O DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas do Ceará apropriou-se do direito de caçar a fera, convocando o biologista, Raymundo Adhemar Braga, exímio exterminador de piranhas, objetivando capturar o "perigoso e fantasmagórico animal". Foi criada, então, a Força Expedicionária do DNOCS, equipada de material bélico, solicitado junto ao Exército, como fuzis, barracas, lança-chamas, granadas e holofotes, segundo consta no livro “Nossas Histórias”, de Jarbas Gurgel. Raymundo Adhemar Braga, o caçador de piranhas, rumou para o lugar das aparições, liderando um agrupamento de dez homens, armados e equipados. Do alto de uma árvore próxima ao acampamento, munido de binóculo e um rifle, montou um posto avançado. Era noite enluarada, quando a vegetação aquática – perto da margem do açude – agitou-se, fortemente. Era o monstro! Dada a ordem, mais de vinte tiros foram disparados. Uma semana depois, foi encontrado morto, boiando, nas margens do açude Botija, um jacaré pesando 32 quilos e 1,6 metros de comprimento. O jacaré ficou exposto à visitação pública como um meio de acalmar a população. O jacaré foi, então, enviado para a Universidade Estadual do Ceará, onde foi empalhado e, posteriormente, levado para o Museu do DNOCS. Em 2002, o historiador Parcélio Campos descobriu o paradeiro do animal - esquecido, num canto - e o levou de volta para a cidade de Palmácia. Hoje, o monstro da Fazenda Água Verde encontra-se exposto na Biblioteca Municipal da cidade. A explicação dada, na época, sobre o medonho é que teria sido, provavelmente, uma coincidência, o jacaré ter abocanhado um bode inteiro, daqueles de chifres grandes, que ficaram expostos, por um longo tempo, até caírem. Na minha próxima viagem ao Ceará pretendo visitar a cidade de Palmácia, no maciço de Baturité, conhecer a Biblioteca Municipal da cidade e fotografar o “Monstro da Fazenda Água Verde” e, quem sabe, beber - no tempo - uma cachaça, da boa.
João Scortecci