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A DAMA DA LOMBADA VERMELHA / JOÃO SCORTECCI

No WhatsApp alguém me perguntou: “Vocês, do Projeto Livros para Todos, aceitam doação de enciclopédias? Antes de responder “Não, infelizmente”, perguntei: “Qual enciclopédia?” Depois de alguns minutos, veio a resposta: “Barsa”. Nenhuma biblioteca, mesmo as mais carentes delas, aceita. Uma tragédia! A “Barsa” foi a enciclopédia que fez a cabeça da minha geração e de tantas outras, antes da chegada da Internet. A primeira edição foi lançada no Brasil em março de 1964; e a última (com atualizações no título, número de verbetes e volumes), foi publicada em 2014. Idealizada em 1959 pela empresária e editora Dorita Barrett de Sá Putch (1914 –1973), herdeira da família Barrett, detentora da “Encyclopædia Britannica” – da qual o pai de Dorita era editor-executivo –, “Barsa” foi a primeira enciclopédia brasileira desenvolvida por um corpo editorial brasileiro formado, entre outros ilustres intelectuais, pelo jornalista e escritor Antônio Callado (editor-chefe), o enciclopedista Antônio Houaiss (1915 – 1999), o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982), o poeta e escritor Ferreira Gullar (1930 – 2016), o sociólogo Gilberto Freyre (1900 – 1987), a escritora Rachel de Queiroz (1910 – 2003), o jornalista Otto Maria Carpeaux (1900 – 1978) e o arquiteto Oscar Niemeyer (1907– 2012). Para o título do projeto, Dorita Barrett escolheu a junção de “Bar”, parte de seu sobrenome, e “Sá”, sobrenome do marido, o então diplomata Alfredo de Almeida Sá. Em 1964, quando a enciclopédia foi lançada – em 16 volumes e 130 mil verbetes, com 30% de conteúdo inédito, totalmente produzido no Brasil, e o restante traduzido de verbetes da “Brytannica” –, as 45 mil coleções da primeira edição se esgotaram em oito meses. Em 1990, no auge das vendas, 120 mil coleções foram vendidas; em 2010, já nos tempos da Internet, foram vendidas apenas 8 mil coleções. Desde o ano 2000, os direitos da publicação da “Barsa” são da Editora Planeta, que comercializa ainda uma versão eletrônica, intitulada “Barsa na Rede”. No ano de 1966, a “Barsa” chegou a minha casa, na cidade de Fortaleza, no Ceará, e a dama de lombada vermelha ganhou espaço de destaque na biblioteca da família. “Barsa” e “Tesouro da Juventude” – enciclopédia voltada para jovens e crianças – mostraram-me o mundo e com quantos “verbetes” se faz uma jangada. 

João Scortecci