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ANNE FRANK: PAPEL, TINTA, DOR, LÁGRIMAS E SALVAÇÃO

Sou fã de diários. Tenho o meu, guardado em três cadernos escritos à mão, entre 24 de novembro de 1971 e dezembro de 1976. Nunca desisti e até hoje, 52 anos depois, vez por outra, penso em retomá-lo. Dívida comigo mesmo, algo assim. A vontade começou em 1971, depois de ler o livro “Diário de Dany”, do francês Michel Quoist (1921 – 1997), publicado no Brasil pela editora Agir. Nos anos 1980, já morando na cidade de São Paulo, soube da história de Anne Frank (Annelies Marie Frank, 1929 – 1945) e do diário no qual ela documentou suas experiências durante a ocupação alemã, em Amsterdã, Holanda, na Segunda Guerra Mundial. Anne Frank, adolescente alemã de origem judaica, foi vítima do Holocausto. Seu diário se tornou público, em 1947, depois de sua morte. Desde então, passou a ser referência como um "símbolo da luta contra o preconceito". Com o crescente número de manifestações antissemitas na Alemanha, sua família se mudou para Amsterdã em 1934. Em maio de 1940, após a invasão nazista aos Países Baixos, Anne Frank e sua família – Otto Frank (pai), Edith Frank-Holländer (mãe), Margot Frank (irmã) – e outros quatro judeus – Fritz Pfeffer, Hermann van Pels, Auguste van Pels, Peter van Pels – decidiram se esconder em compartimentos secretos de um edifício comercial. Em 4 de agosto de 1944, o grupo foi traído, e a localização do esconderijo foi revelada para a Gestapo, polícia secreta da Alemanha nazista. Anne Frank e sua irmã, Margot Frank, foram levadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Baixa Saxônia, no distrito urbano de Celle, na Alemanha, onde morreram vítimas de tifo epidêmico, em 1945. O único sobrevivente foi seu pai, Otto Frank, que, após o final da guerra, retornou para Amsterdã, e soube da existência do diário da filha, por meio de Miep Gies (Hermine Miep Gies, 1909 – 2010), secretária e contadora austríaca da empresa onde se localizava o antigo esconderijo da família. Otto Frank autorizou a publicação do diário em 1947. Desde então, a obra foi traduzida para mais de 70 línguas e foram comercializados cerca de 35 milhões de exemplares em todo o mundo. Lendo a biografia de Anne Frank, soube que, quando sua família fugiu da Alemanha para Amsterdã, ela passou a estudar num instituto de educação onde se praticava o Método Montessori (de Maria Tecla Artemisia Montessori, 1870 – 1952), cujo objetivo é unir o mundo externo e interno à criança, tudo que a rodeia e tudo o que acontece dentro dela, para que tenha liberdade e autonomia de criar, descobrir, experimentar, aprender de forma espontânea e no seu próprio ritmo, sem imposições ou regras, e possa expressar sua personalidade e desejos, criando seu próprio estilo de aprendizado, de forma leve e feliz. Talvez – ninguém pode afirmar com certeza – o interessantíssimo Método Montessori tenha influenciado e incentivado a adolescente Anne Frank a escrever seu diário. Sobre a arte de escrever, necessidade e paixão, e de como cada um de nós começou o ofício, ficam o mistério e também o segredo, indivisível, da união mágica do externo e do interno, da revelação que nos ocupa e aflora, na vida de corações de papel, tinta, dor, lágrimas e salvação.