Não há remédio que cure bibliopegia. Soube da existência do encadernador alemão Hermann Knoesel (Hermann Daniel Cornelius Knoesel, – 1866), por meio de um exemplar do jornal O Cearense, de 26 de junho de 1866, número 2120, impresso na Typographia Brasileira, de propriedade do gráfico J. Evangelista. A pequena nota, na seção “Noticiário”, informa: “Fallecera na Capital (São Paulo) o Allemão Hermann Knoesel, que ali exercia o offício de Encadernador”. Anotei a informação e fui procurar saber do seu legado. “Encadernar, no sentido estrito, é unir, ordenadamente, os cadernos de uma obra, para formar um volume, cobrindo-o com uma capa para proteção e embelezamento ou simplesmente juntar as folhas de forma a que seja mais fácil manuseá-las.” À arte da encadernação de livros dá-se o nome de “bibliopegia”. A palavra “encadernação” deriva de "caderno", do latim “quaternus”, que significa de quatro em quatro. Em português, a palavra evoluiu para a forma “quaderno”, que significa quádruplo ou constante de quatro elementos, pois, tradicionalmente, tomavam-se as quatro partes em que se dobrava um fólio (do latim “folium”, que, em sentido estrito, é uma folha de papiro, pergaminho ou papel resultante da dobragem ao meio de uma folha maior, inteira: um bifólio), para constituir um caderno. O termo “bibliopegia” provém da aglutinação dos étimos gregos clássicos: “livro”, “tira de papiro”; e “cingir”, “colar”, “juntar”. Hermann Knoesel foi um prestigiado encadernador de origem alemã que atuou na cidade de São Paulo, em meados do século XIX. Segundo anúncio publicado no Correio Paulistano, de 2 de outubro de 1862, ele vendeu sua empresa de encadernação para os gráficos Jorge Seckler (também alemão, de Hamburgo) e Philippi, donos da Typographia do Livro Verde, a partir de 1891 Companhia Industrial de S. Paulo, historicamente responsável pela mais longeva série de almanaques comerciais do estado de São Paulo. Pesquisando sobre a Typographia Brasileira, encontrei o livro Biographia do Senador Diogo Antonio Feijó (1861), por Mello Moraes (Alexandre José de Melo Moraes, 1816 – 1882), que fez parte do acervo do mineiro Antonio Torres (Antonio dos Santos Torres, 1885 – 1934), crítico da vida carioca e, nas palavras de Guimarães Rosa, “dono de pena e estilo sem ferrugem”. “A verve aguçadíssima, somada a talento e cultura, fizeram dele autor de registros fundamentais dos costumes da época, sempre com muita graça e inteligência.” (Elvia Bezerra). No Gazeta de Notícias a partir de 1916, sob o título/pseudônimo “Cartas de João Epíscopo” – uma espécie de correio literário –, ele deitou e rolou, sem dó, na cabeça de quem quer que fosse: escritores, militares e políticos. Não conhecia o mineiro Antonio Torres, doador da obra de Diogo Feijó para o PLANOR – Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras da FBN/IPHAN. Quem me contou sobre o mineiro Antonio Torres – ilustrando o post – foi o outro Antônio Torres, o baiano, imortal da Academia Brasileira de Letras, na Cadeira 23, cujo patrono é o meu conterrâneo José de Alencar. Sobre o encadernador Hermann Knoesel não descobri mais nada, nem o ano do seu nascimento e quando imigrou para o Brasil.
João Scortecci
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