Manjar branco é uma sobremesa preparada com leite de coco, açúcar e ameixas. Existem variações e outras receitas, todas maravilhosas! O manjar branco da mamãe Nilce era assim. Melhor que o seu manjar - estou aqui sendo injusto – era o seu pudim, cremoso e cheio de furinhos. Antes de falar do seu manjar branco, certa vez, perguntei-lhe: “Mamãe qual o segredo do pudim com furinhos?”. Ela poderia, com propriedade, ter dito: “feito com amor” ou “é o jeito de bater a mistura” ou, ainda, é o “tempo de descanso da mistura antes de assar”. Coisas assim. Mamãe Nilce, então, respondeu-me: “É a forma!”, apontando para uma forma velha e amassada, do tempo do seu enxoval. Eu, ingenuamente, algumas vezes, até havia pensado em comprar-lhe uma nova. Nós, filhos adultos e órfãos, somos sobreviventes e crias estranhas: amamos nossas mães pelo pudim, pelo macarrão com pernil, pelo peru desfiado de Natal, pela torta de frango com legumes e, mais do que tudo, pelo manjar branco. Hoje cedo, meu irmão José Henrique enviou-me fotos de uma forma antiga, no formato de peixe - não sei de que ano – para moldar manjar branco, peça exposta no acervo do Museu de Artes e Ofícios, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Quem me conhece sabe que sou: sugestionável, influenciável e persuadível. Quando gosto, gosto. Derreto-me, sempre. Desconheço os segredos do manjar branco da mamãe Nilce. Seria a forma em formato de peixe? Talvez. Mamãe Nilce e seus segredos de amor. Dizia, sempre: “Quando me casei não sabia fazer nada! E pensar que, quando cheguei ao Ceará – isso no ano de 1955 –, fui ao mercado comprar um vaso de barro para plantar espada-de-são-jorge, e o moço me trouxe, contrariado, um penico de barro!”. Nilce gostava de contar essa história. Ríamos muito. Coisas do Ceará, de filhos que amam com saudade suas mães e, mais do que tudo, suas artimanhas culinárias.