São Paulo - aqui no meu pedaço - chove feito suor de anjo. Chuva fina,
delicada. Tudo muito garoa, tudo muito de deus. Nela tudo se olha, molha-se,
nada seca - aos goles - no corpo emudecido. São Paulo está um céu aguado no
tempo: sangue de anjo, mijo de onça no concreto, pedaço de chão - adormecido - no
pão de véspera. O vidro da janela é o da porta entreaberta. Portal? Talvez. Passagem
do sol da tarde - que busca por uma luz qualquer - ou um pássaro olheiro,
anunciando canto de asas. Pauliceia inteira nua. Aqui
maio - desmaio - de almas e silêncio. Tudo de deus, tudo de nós.
João Scortecci