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GUILLOTIN: CABEÇAS VÃO ROLAR!

Na Itália, quando visitava o Duomo – Catedral de Santa Maria del Fiore – de Florença, escutei a máxima: “Italianos e franceses adoram ver uma cabeça cortada, rolando ladeira abaixo”. Risos. Depois, descobri que quem havia me dito isso estava falando sério. Guardei a história. Lendo sobre o médico francês Guillotin (Joseph-Ignace Guillotin, 1738 – 1814), que, em 10 de outubro de 1789, propôs o uso de um dispositivo mecânico de decapitação, para realizar as penas de morte na França, lembrei-me da história. O médico Guillotin não foi o inventor da guilhotina, mas seu nome se tornou um epônimo – aquele ou aquilo que dá o seu nome a qualquer coisa ou pessoa –, para esse dispositivo de decapitação. A guilhotina – ideia defendida por Guillotin – tinha a finalidade de proporcionar uma morte rápida e sem dor aos condenados à morte. Justificou – em audiência na Assembleia Nacional Francesa – que esse seria um método mais humanitário, eficaz e igualitário. O aparelho da guilhotina é constituído de uma grande armação reta – aproximadamente 4 m de altura –, na qual é suspensa uma lâmina losangular, pesando aproximadamente 40 kg. As medidas e o peso fazem parte das normas técnicas francesas para construção do aparelho. A lâmina é erguida à parte superior da armação por uma corda e fica mantida no alto, até que a cabeça do condenado seja colocada sobre uma barra que a impede de se mover. Em seguida, a corda é liberada, e a lâmina cai de uma distância de 2,3 m no pescoço da vítima, cortando-lhe a cabeça. Guillotin considerava esse método de execução mais humano do que o enforcamento ou a decapitação com o uso de um machado. Afirmava que a agonia do enforcado podia ser longa, caso o dano aos ossos do pescoço não causasse a morte imediata, e o machado não cumpria seu papel ao primeiro golpe, o que aumentava consideravelmente o sofrimento da vítima. Guillotin inspirou-se em uma gravura do pintor, ilustrador e matemático alemão Albrecht Dürer (1471 – 1528), feita no século XVI, na qual o ditador romano Tito Mânlio, com um aparelho semelhante a uma guilhotina, decapita seu próprio filho, que desobedeceu a ordens militares. No primeiro projeto da guilhotina, havia uma lâmina horizontal. Foi o doutor Louis, célebre cirurgião da época, que recomendou, em um relatório entregue em 7 de março de 1792, a construção de um aparelho com lâmina oblíqua, única maneira de matar os condenados com certeza e rapidez, o que era impossível com uma lâmina horizontal. Calculam-se 40 mil vítimas da guilhotina entre 1792 e 1799. A última pessoa guilhotinada na França foi o imigrante tunisiano Hamida Djandoubi, em 10 de setembro de 1977, condenado por tortura seguida de assassinato de sua ex-namorada, Elisabeth Bousquet, de 21 anos. Um dos acontecimentos mais importantes da Revolução Francesa foi a execução do rei Luís XVI, na guilhotina, em 21 de janeiro de 1793, às 10h20, em Paris, na Praça da Revolução, antiga Praça Luís XV, renomeada, em 1795, como Praça da Concórdia. Luís XVI foi preso, julgado e condenado à morte, por alta traição. 

João Scortecci