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DAS BIGORNAS DO CÉU

Das bigornas. Do aço forjado, do ferro golpeado e do meteoro que caiu do céu - quente e aguçado - pela força dos deuses. Corpo quadrangular, com extremidades com forma de cônica ou piramidal. Dois chifres, opostos e agudos - brutos. Sinais de nascença! Sobreviventes, talvez. Lembrei-me, então, de uma bigorna - perdida e sem rumo - naufraga nas areias movediças do tempo. Isso no Ceará distante, dos anos 1960. Na maré baixa das águas, boiava feito ancora, no caminho dos peixes. Ficava lá, sempre. Na maré alta, soçobrava, no silêncio do corpo de sal e do fim. Pergunta, talvez: quem teria deixado por lá uma bigorna inútil? Dois extremos e uma história açoitada. Vale o escrito. Dualidades? É o que pesa um coração ilhado. Ferido. As primeiras bigornas datam da Pré-história da humanidade e eram feitas de pedra. Depois de bronze e na Roma Antiga, de ferro bruto, usadas na confecção de armas e armaduras. Tropas multiladas. Estandarte de leões e glórias! Um dia, veloz, eu volto. Faço canga. Faço montaria. Faço oceanos. E levo comigo - até os céus - o peso da terra, dos mares e da humanidade, que dói e sangra.

João Scortecci