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DOCE DE LEITE ARISTOTÉLICO

Das concepções aristotélicas. E os elementos: fogo, ar, terra e água. Princípios do principal. A saber: receita alquimista de Maria, irmã de Moisés. E mais um pouco de tudo: banho-maria! Receita de bruxa? Talvez. Anotações do coração: Lata de leite moça na panela de ferro e fervura. Não esquecer - detalhe importante - de tirar, antes, o rótulo de papel. Depois de ferver, baixa o fogo. Vigiar - no olho grande - e espiar: vez por outra. Demora mesmo. O suficiente. Pronto? Agora deixa esfriar. Pode assoprar? Pode, mas não ajuda. Paciência. Deixa o doce respirar - “ventaniar” - no descanso da brisa fresca da manhã. Aristóteles - sentado no banco da cozinha - me olha, desconfiado. Amor à sabedoria. Castiga no queijo branco. Corta em tiras. Sabe fazer? Olha - e faz igual: assim! E agora? Abre a boca - dos infernos - e come, aos pecados, feito Dante. Quem? Ninguém. Esquece. Isso engorda? Muito. Aristóteles cheira e prova miúdo, com cara de quem gostou. Não repete a gula: assim são os polímatas. Cadê o poeta mineiro? Está lá no canto da cozinha, papeando com Moisés, o moço dos tijolos. Estão filosofando? Sempre! Estão - ambos - em banho-maria. Sobre o quê conversam: posso saber? Concepções da metafísica, lógica, política, retórica, mineirices do claro enigma. E Maria? Ainda na lata, pronta para ser devorada. Guardou o rótulo da lata da moça? Sim, claro. O que você vai fazer com ele? Talvez escrever uma mimosa, um poema doce, uma cartinha de cheiro, ou algo assim. Você - vate metido - e essa sua fraqueza de resfolegar no tempo. São as concepções aristotélicas da vida. Versejar - ainda é - o melhor uso que o homem pode fazer de seu tempo livre. E agora? Lambe os dedos. É o melhor do doce de leite. 

João Scortecci