O povo do Ceará adora “apelidar” deus e o mundo. Ninguém escapa! Nos anos 1960 e 1970, em Fortaleza, Ceará, dois tipos folclóricos ganharam fama e destaque perambulando pelas ruas da cidade. Eram eles: Feijão sem Banha e Pombo Branco. O primeiro era uma carroça ambulante! Tudo que via catava e pendurava. Um Cephalopoda! Para a minha irmã caçula Ana Cândida, quando criança, Feijão sem Banha era o maior dos pesadelos. O próprio capeta! "Lá vem o Feijão sem Banha! Corre!" E ela zunia - igual rastilho de pólvora - para dentro de casa. Ninguém sabe quem colocou o apelido. Um nórdico das ruas! Isso depois de ficar sabendo que - nós - cearenses, mais do que índios e portugueses, somos geneticamente, vikings. Lembro-me que um dia tentei “conversar” com ele, sem sucesso. Demonstrou confusão mental. O segundo tipo chamava-se Pombo Branco. Era uma máquina ambulante de rasgar papel. Picava com agilidade e numa rapidez incrível. A diversão de menino era adiantar o passo - alguns metros a sua frente - e ir jogando no seu caminho de tudo: jornais, revistas e livros. “João, você pegou a revista O Cruzeiro?” “Não.” Era mamãe Nilce perguntando. “Seu Pai andou reclamando que não encontrou a sua - The Reader's - do mês.” “Estranho, sumiu!” “As coisas aqui em casa - agora - deram para sumir de vez.” Alimentar a fúria do Pombo Branco, não era nada fácil. Segue pequena lista de “apelidados”, moradores de rua, da Fortaleza dos anos 1960 e 1970: Ruído (de pele marcada pela catapora), Bola Sete, Paus-Brasil (pai e filho), Sararás (albino), Ferrugem (ruivo), Rádio Patrulha (imitava com a boca o som da sirene da polícia) e Zé Tatá, doidinho que só ele. Outro dia perguntei: “Aninha, você se lembra do Feijão sem banha?” Ela respondeu: “Nem brinca com isso!”
João Scortecci
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