Juscelino Kubitschek (Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1902 – 1976) nasceu em Diamantina, Minas Gerais. Até os 19 anos de idade, morou em uma ladeira: difícil descer e mais ainda subir! Dizem que sua paixão por ruas e cidades planas vem dessa época. Isso talvez explique Brasília. Não creio. Juscelino era um místico, e a história da construção da nova capital federal tem lá os seus mistérios. Anotei a “prosa” para perguntar ao amigo escritor Roniwalter Jatobá – biografo de JK – sobre a construção da cidade e, também, sobre a tal ladeira difícil de descer e mais ainda subir! Meu pai, Luiz Gonzaga, engenheiro civil e elétrico, foi conhecido de JK e andaram – não sei onde ou quando – conversando sobre um projeto de estrada de ferro. Algo assim. Minha curiosidade de menino – na época – ficou no destino dos trilhos: “café com pão, café com pão, café com pão; Virgem Maria, o que foi isso, maquinista?” (Manuel Bandeira). O que eu queria era – não mais do que isso – brincar de “trenzinho” e carregar nos vagões todos os meus sonhos. Para quem não sabe, sou apaixonado por locomotivas, vagões, trilhos e estações de trem. Em outra “encadernação”, devo ter sido maquinista, agente de estação, bilheteiro ou sinalizador. Voltando ao JK, no início dos anos 1980 frequentei a casa do poeta Menotti Del Picchia, na Avenida Brasil, na capital paulista. O “Príncipe dos Poetas” havia trabalhado com meu avô materno, José Scortecci, na revista PAN (1935 – 1945). Foi da boca de Menotti que escutei as melhores histórias sobre os modernistas de 1922, em especial sobre o antropofágico Oswald de Andrade (1890 – 1954). Nossos encontros aconteciam na sala principal da casa sob os olhares de JK, devidamente enquadrado junto à porta da entrada. Menotti era fã do mineiro e, sempre que nos despedíamos, ele dizia, apontando para sua foto: “Um grande homem. Um presidente de verdade!” Nunca conversamos sobre o acidente de carro – possivelmente criminoso – que vitimou JK, no dia 22 de agosto de 1976. Quando jovem, achava essas desconfianças tudo fantasia e invenção. Mudei. Acontece. Hoje acredito em Saci-Pererê, olho gordo, conspiração, fraude, trapaça, bruxaria e até em Papai Noel. A vida é assim mesmo: difícil descer e mais ainda subir.
João Scortecci