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LUZ DEL FUEGO E OS LIVROS BANIDOS DAS LIVRARIAS

A dançarina, naturista, atriz e feminista Dora Vivacqua (1917 – 1967), mais conhecida pelo nome artístico Luz del Fuego, destacou-se como pioneira do naturismo no Brasil, entre os anos 1940 e 1950, tendo sido a fundadora do primeiro reduto naturista da América Latina, o Clube Naturalista Brasileiro, na ilha de Tapuamas de Dentro, rebatizada de Ilha do Sol, localizada na Baía de Guanabara, pertencente ao município de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, por meio de concessão da Marinha do Brasil. Luz del Fuego nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Morou em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde se estabeleceu em 1920. Pertencia a uma família descendente de imigrantes italianos, com intelectuais e políticos, a qual costumeiramente realizava em sua residência reuniões literárias, com a presença de personalidades do modernismo brasileiro, entre eles, Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava. Em 1932, com 15 anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro, sob a tutela de Attilio, um de seus irmãos. No Rio, foi introduzida ao meio artístico e cultural pelo radialista César Ladeira (César Rocha Brito Ladeira, 1910 – 1969), um dos ícones da era de ouro do rádio no Brasil, na época, locutor na Rádio Mayrink da Veiga. Mais tarde, conheceu José Mariano Carneiro da Cunha Neto, neto do político e abolicionista José Marianno (José Marianno Carneiro da Cunha 1850 – 1912), no Cassino da Urca –casa de fama internacional localizada no bairro carioca da Urca e que funcionou de 1933 a 1946, quando os jogos foram proibidos – e ele a levou aos locais frequentados pela elite brasileira. Luz del Fuego foi a primeira artista brasileira a aparecer nua em um palco. Adestrou serpentes e, dois anos mais tarde, estreou nos teatros de revista do Rio de Janeiro, sob o pseudônimo Luz del Fuego, com espetáculos de dança em que aparecia nua, com um casal de ofídios enrolado em seu corpo. Embora repudiada pelos mais conservadores, que a consideravam "uma ameaça aos bons costumes", Luz del Fuego atraía enorme público para os seus espetáculos e se tornou uma das vedetes mais conhecidas dos anos 1950 no Brasil. Escreveu dois livros, em um dos quais lançava a teorização do movimento naturista brasileiro e, como resultado, viu-o ser banido das livrarias. Tentou se candidatar a deputada federal pelo Partido Naturalista Brasileiro, que ela fundou, mas foi impedido de ser registrado. Aventurou-se, também, em algumas produções cinematográficas ao longo dos anos 1950. Apesar da popularidade de seus espetáculos, a artista passou por dificuldades financeiras em seus últimos anos de vida. Luz del Fuego foi assassinada, junto a seu caseiro, por dois pescadores na Ilha do Sol, em 19 de julho de 1967. Seus corpos foram lançados ao mar, mas recuperados em 2 de agosto daquele ano. Sua história foi tema do documentário “A Nativa Solitária”, de 1954, recuperado pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), de cujo acervo faz parte, e de um filme que leva o seu nome, lançado em 1982. Em 2010, Luz del Fuego foi incluída na lista "Musas que fizeram a história do Rio". Em 2011, na exposição "Brasil Feminino", realizada durante evento na Biblioteca Nacional, foi nomeada uma das "heroínas do século XX". É considerada um ícone para o movimento feminista brasileiro.

João Scortecci