Nasci na cidade de Fortaleza, Ceará, no ano de 1956. Em 1958, minha família mudou-se para a fazenda Nilcevia, dos meus avós maternos, José Scortecci e Maria Aparecida Campos Scortecci, na cidade de Dois Córregos, interior de São Paulo. A mudança repentina foi uma emergência, depois de um gravíssimo acidente de carro, que meus avós maternos sofreram e que deixou minha avó Maria Aparecida, por quase dois anos, na cama. Papai, engenheiro, durante esse tempo, administrou a fazenda, uma plantação de café e uma granja. Retornamos para Fortaleza, Ceará, no início do ano de 1961. No mesmo ano fui matriculado no “Jardim da Infância”, no Externato Cristo Rei. No primeiro dia de aula - estabanado que sou - quebrei o copo coletivo de beber água da classe, que ficava de guarda, ao lado do filtro de barro. Levei uma tremenda bronca da professora. Menino estúpido! Pedi desculpas, mas de nada adiantou. A professora colocou-me de castigo, de pé, com o rosto colado no canto da parede da sala de aulas. Uma humilhação, que nunca esqueci. Tinha, apenas, 5 anos de idade. No dia seguinte levei um copo novo. A Professora - não satisfeita - repetiu a mesma ladainha, desta vez na frente do meu pai, que não gostou nada da agressividade da educadora. Perdi o prumo. O sangue ferveu. Peguei o copo novo e o atirei no chão, no meio da classe. Toma! “Esse menino seu filho é um capeta!”. Foi o que ela disse. Papai pegou-me pela mão e levou-me para casa. Voltei - anjinho - alguns dias depois, como se nada tivesse acontecido. Desconfio que - em algum momento da história - houve uma negociação de paz. Naquele mesmo ano fugi da escola e surrei um menino ladrão, que havia roubado da minha lancheira do Zorro, o meu pão com ovo. O ano de 1961 foi tenso e instável. Em 1962 (foto), deixei o “Jardim de infância” e fui para a “Alfabetização”, no mesmo colégio: Externato Cristo Rei. Naquele ano de 1962 fui suspenso - três dias - depois que me pegaram comendo hóstias da sacristia da igreja, que ficava ao lado do colégio. Dei mole, acontece! Não concluí a Alfabetização no Externato Cristo Rei - desta vez não por minha culpa - e sim por decisão dos meus pais. Isso depois de um acontecimento "absurdo", que deixou os meus pais "p" da vida. O padre diretor do colégio - Pe. Monteiro, creio - havia morrido. Era idoso e estava doente. Os alunos foram colocados em fila indiana e, um por um, obrigados a beijar a mão do sacerdote morto. Uma “melação” nojenta de mãos. O defunto tinha no dedo indicador da mão, um anel, com uma pedra vermelha. Em casa, contei a história - macabra - para os meus pais. Papai Luiz, enfurecido, pegou o diretor do Externato Cristo Rei pelos colarinhos, literalmente. Ameaçou chamar a polícia e de abrir um processo contra o colégio. Em 1963 - Eu e meus irmãos Luiz e José Henrique - mudamos de escola. Fomos matriculados, então, no colégio Cearense, dos Irmãos Maristas, onde estudei até o final do ano escolar de 1971, quando, então, no ano de 1972, com 16 anos de idade, mudei-me, definitivamente, para a cidade de São Paulo.
João Scortecci