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FEIXE DE FLECHAS INCERTAS

O voo das palavras. Asas que saem da boca - feixe de flechas incertas – que não atingem alvo algum. Imprecisas, passam. Gritos mudos no alvo! Erro de direção, rumo e destino. Adiante: outra tentativa. Mais outra! Repetidas vezes, atravessando o nada, o vazio. Outro aviãozinho de papel - agora vai, espero - mergulho do céu e no incompleto silêncio do sol. Demora esticar linha de cerol. É assim mesmo. A pipa - arraia, papagaio - voa com o vento dos céus. Livre. Sustenta-se no ar, igual algodão doce. Quantas infâncias ainda por brincar? Devo-me. Quem sabe - na próxima - melhor sorte. Uma faísca no baú do amor, uma casa no coração do fim e o gozo.  Adiante, ainda: ventanias! Assim são as palavras inúteis. Gritos esquecidos. Melhor, talvez, mudar de boca, outra, talvez, usar a língua alheia do corvo ferido e voar na imensidão do irregular desejo da morte. Vale um pequeno bilhete, um poema, no caminho do céu. Na infância chamávamos de "cabograma". Vale outro - e depois, mais outro - feixe de flechas incertas no alvo da vida vivida e derradeira.    

João Scortecci