A palavra “encadernação” deriva de “caderno”, do latim “quaternus”, que significa “de quatro em quatro”. As quatro partes em que se dobrava um fólio – folha dobrada ao meio de uma folha maior – para constituir um caderno. À arte da encadernação de livros dá-se o nome bibliopegia. Wiborada, freira beneditina, bibliotecária e encadernadora de livros, nascida no ducado da Suábia, hoje Suíça, e falecida no ano de 926, tinha o dom da profecia e paixão pelos livros. Em 925, previu uma invasão húngara em sua região. Seu aviso premonitório possibilitou que os religiosos dos mosteiros de Saint Gall e Saint Magnus escondessem os livros da biblioteca do mosteiro – enterrando-os – e escapassem para cavernas nas colinas próximas. Os manuscritos mais preciosos foram transferidos para a Ilha de Reichenau, localizada no Lago Constança, no sul da Alemanha, considerado um lugar seguro. Wiborada, por influência do seu irmão Hatto - monge na Abadia de São Galo - e depois da morte dos seus pais, juntou-se ao irmão, tornando-se, então, uma beneditina na Abadia de São Galo. Hatto, seu irmão, ensinou-lhe latim para que pudesse entoar a Liturgia das Horas e na biblioteca do mosteiro, aprendeu a arte de encadernar livros. Nesta época, Wiborada foi acusada de transgressão grave e foi submetida à prática medieval de provação de fogo, para provar sua inocência. Fato que, provavelmente, influenciou sua decisão de retirar-se do mundo e se tornar um asceta, devota dedicado a orações, privações e mortificações, sem ter pronunciado votos. Quando, então, fez uma petição para se tornar anacoreta, monge cristão, Salomão III, bispo de Constança, providenciou para que ela ficasse em uma cela ao lado da igreja de São Jorge, próxima ao mosteiro, onde permaneceu por quatro anos, até 891. Wiborada - tornou-se conhecida - dizia ter o dom de profecia, o que acabou atraindo admiradores e curiosos. Em 926, sua premonição se concretizou, e Wiborada, que se negou a fugir, pagou com a própria vida, quando foi brutalmente assassinada. Seu corpo, mutilado e desfigurado, foi abandonado em uma pequena elevação, onde mais tarde, foi encontrada, enterrada, a biblioteca de livros. Em 1407, o Papa Clemente II a proclamou, Santa. Wiborada foi a primeira mulher a ser canonizada na história. É patrona dos livros, dos livreiros e dos bibliófilos, colecionadores de livros raros e preciosos. Na arte, ela é comumente representada segurando um livro, representando a biblioteca que salvou, e um machado, que significa a forma de seu martírio.
João Scortecci