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DOM HELDER CÂMARA, TRAPACEIRO NO GAMÃO E MENSAGEIRO DA PAZ

O cearense Dom Hélder Câmara (Hélder Pessoa Câmara, 1909 – 1999), bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, era amigo da família Paula, dos meus avós paternos João Batista de Paula – o “Batista da Light” – e Sarah do Carmo de Paula. Uma curiosidade: Batista e Sarah eram primos legítimos, e ela, um ano mais velha que ele. Hélder Câmara ingressou no Seminário Provincial da Prainha em 1923, com apenas 14 anos de idade. Foram alunos desse Seminário – importante centro de formação do clero da Igreja Católica no Brasil, fundado em 1864 – os ilustres clérigos Padre Cícero (1844 - 1934) e Frei Daniel de Samarate (1876 - 1924). Na cidade de Fortaleza dos anos 1950 até 1980, morávamos na Vila Santa Terezinha – conjunto de quatro casas, na Av. D. Manoel, entre a Avenida Heráclito Graça e a Rua Pero Coelho, distante 1,2 km do Seminário. A Vila Santa Terezinha não existe mais. Foi vendida e depois demolida. Hoje, no terreno, funciona um estacionamento, que serve ao complexo do Banco Central do Nordeste. O Seminário Provincial da Prainha ainda está lá, firme e forte, ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha. Dom Hélder Câmara teve uma vida dedicada aos pobres e aos necessitados. Ganhou o epíteto de “mensageiro da esperança”. Foi o brasileiro por mais vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz, com quatro indicações. A Lei n. 13.581, de 26 de dezembro de 2017, declarou Dom Helder Câmara como Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos. Dom Helder, vez por outra, aparecia na Vila Santa Terezinha, para papear e jogar gamão – jogo de tabuleiro – com meus avós Sarah e Batista. Gostava das pedras brancas! Quem me contou a história foi minha avó Sarah, isso depois de jurar, diante da imagem de Santa Terezinha, de quem era devota fervorosa. “Filho – era assim que ela me chamava – você sabia que o Hélder Câmara roubava no jogo de gamão?” "Jura?" Quis saber. Segundo vovó Sarah, ele trapaceava com os dados – a seu favor, claro – e, quando estava perdendo feio, arranjava um jeito de derrubar o gamão no chão e gritar: “Merda, merda, puta que o pariu!”. Não o conheci pessoalmente. Uma pena. Dom Hélder Câmara faleceu em Recife, capital de Pernambuco, no dia 27 de agosto de 1999. O processo de sua beatificação e canonização avança no Vaticano. Um homem de bem, que adorava jogar gamão - com as pedras brancas - e trapacear com os dados.

João Scortecci