Frei Ambrósio (Manoel Andrade Soares, 1909 – 1991) nasceu em Fortaleza/CE. Foi ordenado sacerdote em 1936. Após o desabamento, em 1957, da Igreja do Coração de Jesus, conhecida como Igreja dos Albanos, construída no Morro dos Pecados, em 1848, pelo comerciante e militar Barão de Aratanha (José Francisco da Silva Albano, 1830 – 1901), Frei Ambrósio encabeçou o plano de reconstrução da igreja. Na década de 1950, para poder abrigar um carrilhão de sinos e um relógio, foi construída uma nova torre, usando como base as fundações da antiga. No dia 15 de março de 1957, às 13 horas, a torre veio abaixo. “Parecia o fim do mundo!” Foi o que mamãe Nilce nos contou. Eu tinha na época sete meses de idade, e meus irmãos Luiz e José, 5 e 4 anos, respectivamente. Morávamos na Avenida D. Manuel, n. 1.086, quase esquina com a Avenida Heráclito Graça, a três quarteirões de distância da igreja. Depois do susto e de ver a poeira cobrir o céu, mamãe Nilce, olhando na direção do Morro dos Pecados, começou a gritar de desespero e medo: “Luiz, pega o jipe e vai salvar as crianças!”. Quando do desabamento da igreja, Luiz e José estavam no “Jardim de Infância”, escolinha localizada na Rua Solon Pinheiro, quase esquina com a Rua Pedro I, ruas que contornam a igreja. Felizmente, nada de grave aconteceu com eles, que chegaram em casa eufóricos e cobertos de pó. Frei Ambrósio era uma figura interessante. Conheci-o nos anos 1960, na inauguração do Cine Pulguinha, que funcionava quase em frente à Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Avenida Duque de Caxias, ao lado do antigo Colégio Cearense, dos Irmãos Maristas. Duas cenas inesquecíveis até hoje povoam minhas lembranças de infância: o auditório do cinema infestado de pulgas – coçação geral e banho de vinagre, depois – e, na hora do “beijo”, o operador do projetor cobrindo a cena com a mão. Vaias! A molecada gritava: “Mostra! Mostra!”. E os mais exaltados gritavam: “Frei FDP!”. Frei Ambrósio foi incansável no trabalho de arrecadação de fundos para a reconstrução da igreja, reinaugurada em 26 de novembro de 1961. Estávamos lá! Havíamos acabado de retornar de Dois Córregos, cidade do interior de São Paulo, onde moramos de 1958 até 1961, na Fazenda Nilcevia, de propriedade dos meus avós maternos, José Scortecci e Maria Aparecida. Sempre que volto a Fortaleza, visito a igreja. Meus melhores pecados são da época das quermesses do Frei Ambrósio, quando comíamos milho assado, fumávamos cigarros sem filtro, agarrávamos as meninas no escuro do trem fantasma e cuspíamos – lá do alto da roda-gigante – no povo do Morro dos Pecados.
João Scortecci
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