Quando da morte do poeta, diplomata e compositor Vinicius de Moraes (Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, 1913 – 1980), em 9 de julho, uma quarta-feira, o editor e artista gráfico Massao Ohno (1936 – 2010), ligou-me e deu – de sola – a triste notícia: “Scortecci, o Vinicius morreu!”. “Não sabia”, respondi, surpreso. Massao Ono, aceleradíssimo, metralhou: “Falei agora com o Pedro, filho do Vinicius. Sabe, né? Ele autorizou usarmos aquela foto do pai de perfil, num cartaz! Sabe qual é, né?” “Não”, respondi. “Vinicius de perfil, sem a garrafa e o copo de uísque, claro!”, justificou. E continuou falando, sem parar: “Faço a arte final, “fulano de tal” cuida dos fotolitos e você imprime os cartazes. Combinado?” Topei. Massao Ohno, pilhado, continuou: “Estão organizando uma missa, algo assim, na igreja da Consolação, aqui em São Paulo, no sábado, dia 12, em sua homenagem. A ideia é distribuir o cartaz na cerimônia. Temos 3 dias!” Terminamos a conversa, com a promessa de nos falarmos novamente, no final do dia. Liguei, então, para a atriz e poeta cearense Maria Vianna, atriz em filmes como “Menino da porteira”, “A pequena órfã” e autora da Scortecci, com o livro de poemas “Vertical dos Descaminhos”. Contei-lhe o plano. Maria Vianna, prontamente, ligou para o Deputado Cunha Bueno, também autor da Scortecci e, na época, Secretário de Cultura do Estado de São Paulo. O pedido foi curto e irrecusável: “Secretário, precisamos imprimir 500 cartazes, formato meia folha, papel couchê, para um evento em homenagem ao Vinicius! Feito?” Na hora, Cunha Bueno autorizou a impressão. No dia da homenagem, na Igreja da Consolação, sábado, dia 12 de julho, às 11 horas da manhã, os cartazes foram distribuídos, gratuitamente. Surpresa foi encontrá-los – também – à venda, na entrada da igreja da Consolação. Até hoje não sei quem ganhou dinheiro, por fora. Na época, investigamos a bandidagem, sem sucesso. Culparam alguém da gráfica, algo assim. O cartaz e as provas, hoje, fazem parte do memorial da Scortecci. Na belíssima foto original tirada pelo fotógrafo Pedro de Moraes (1942 – 2022), filho de Vinicius, aparecem uma garrafa de uísque e um copo, além do perfil do poeta, eternizado por Massao Ohno, no cartaz. Vinicius: “Que não seja imortal, posto que é chama,/Mas que seja infinito enquanto dure.”
João Scortecci