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MEMÓRIA DOS ANOS DE CHUMBO / JOÃO SCORTECCI

30 de dezembro de 2012. Morreu neste domingo Ottoni Guimarães Fernandes Júnior, diretor internacional da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O jornalista estava em El Chatén, na Patagônia, Argentina, e foi vítima de um infarto. Antes de assumir a Diretoria Internacional da empresa, foi diretor de Comunicação do Instituto Lula, secretário executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República entre 2007 e 2010, na gestão do ex-ministro Franklin Martins, e diretor de redação da revista Desafios do Desenvolvimento, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Trabalhou por 21 anos na Gazeta Mercantil, onde atuou de repórter a diretor-geral. Também foi redator-chefe da revista IstoÉ e editor da revista Exame. Ex-guerrilheiro, Ottoni militou na Ação Libertadora Nacional (ALN) durante os primeiros anos da ditadura militar, até ser preso em 1970. Em 2004, o jornalista lançou o livro “O Baú do Guerrilheiro - Memórias da Luta Armada”, com memórias dos anos de prisão. Trabalhei com o jornalista Ottoni na CBL - Câmara Brasileira do Livro, quando vice-presidente administrativo e financeiro da entidade. Quando conversávamos sobre os anos de chumbo a brincadeira era sempre a mesma: como teria conseguido dirigir um fusquinha em fuga com os seus mais de 1,90 de altura? Riamos muito. Naquela época estivemos de lados opostos. Ele num fusquinha e eu num jeep do QG do II Exercito. Brincava sempre: sorte que não usei a minha metralhadora Beretta, M-12. Mais risos. A última vez que nos encontramos foi em Lisboa, para um bacalhau no restaurante Solar do Presunto, na Rua das Portas de Santo Antão 150. “Olá guerrilheiro!” Gritei. Ele respondeu: “Poeta você não existe!” E assim foi. 

João Scortecci