A metamorfose foi um livro que “mexeu” comigo. Franz Kafka sabe disso. Ficou um bom tempo dentro de mim, olhando-me, além da conta. No estômago aquele bolo de carne que não desaparece nunca. Digestão lenta, cruel e difícil. Kafka me foi apresentado pelo escritor e tradutor Modesto Carone (Modesto Carone Netto, 1937 - 2019). Isso nos anos de UBE, CBL e Prêmio Jabuti. Tenho sofrido muito com notícias de morte. Elas chegam - aos montes - e me roubam pedaços. Sinto-me “canibalizado”. Não adianta dizer que o “barato” vai fazer muita falta e que o seu legado vai ficar, para sempre. Palavras prontas e vazias. Modesto se foi. Ele e outros e mais outros. Muitos! Entrevistas em velórios deveriam ser proibidas. Dizer o quê? Que chatice! Esse tal de Franz Kafka (1883 - 1924) é mesmo um soco no estômago. Autor dos livros “A metamorfose”, “O processo” e “O castelo” pediu, antes de morrer, seu último desejo, ao jornalista, escritor e seu testamenteiro literário Max Brod (1884 - 1968) que queimasse seus cadernos. Deixou-lhe, uma mensagem: "Querido Max. Meu último desejo: tudo o que escrevi é para ser queimado, sem ler." Max Brod - curioso e inconformado - desobedeceu e não queimou nada. Para Dymant-Lask (Dora Diamant, 1898 - 1952), sua amante, Kafka pediu a mesma coisa: “Queime tudo!” Dora não o fez. Guardou alguns escritos e suas cartas para ela. Em 1933, o material acabou confiscado pela Gestapo - polícia secreta oficial da Alemanha Nazista -, de Hitler. Moral da história: queime tudo, você mesmo!
João Scortecci
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