No ano de 1995, numa reunião de diretoria da Câmara Brasileira do Livro – na época, eu ocupava o cargo de Diretor-Adjunto, durante a gestão do editor e gráfico Altair Brasil – alguém, não me lembro quem, sentenciou: “Livro se vende falando dele!” Claro, pensei. Não poderia ser diferente. Afinal, propaganda – ainda – é a alma do negócio! No Carnaval do Rio de Janeiro de 2024, no Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, cinco enredos de escolas de samba foram inspirados em livros. Uma festa literária! A escola Unidos do Porto da Pedra levou a história do almanaque “Lunário Perpétuo”, com a profética do saber popular, obra do espanhol Jerónimo Cortés, escrito em 1594. A Beija-Flor levou o samba-enredo "Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, história do engraxate Benedito dos Santos, hilário descendente do último imperador da Etiópia. A Salgueiro levou o samba-enredo “Hutukara” sobre o povo Yanomami e a memória do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, assassinados em 2022. A Grande Rio levou o samba-enredo “Nosso destino é ser onça” sobre a mitologia tupinambá, baseado no livro do escritor Alberto Mussa. A Portela levou o samba-enredo “Um defeito de cor”, baseado na obra da escritora Ana Maria Gonçalves, que conta a saga de Kehinde, mulher negra sequestrada no Reino do Daomé, atual Benin, na África, quando tinha oito anos de idade, e trazida para a Bahia, onde foi escravizada. A Imperatriz Leopoldinense levou o enredo “O testamento da cigana Esmeralda”, do poeta cordelista pernambucano Leandro Gomes de Barros. Dizem que a venda de alguns desses livros disparou nas lojas virtuais. “Livro se vende falando dele!” Em 1559, durante o Concílio de Trento, o Papa Paulo IV (Gian Pietro Carafa, 1476 – 1559) promulgou a primeira versão do “Index Librorum Prohibitorum” (em tradução livre “Índice dos Livros Proibidos”), lista de publicações consideradas, pela Igreja Católica, heresias anticlericais ou lascivas. O “Index” continuou sendo atualizado – regularmente – até a 32ª. edição, em 1948, e, na época, listava aproximadamente 4.000 títulos censurados. Foi abolido pela Igreja Católica em 15 de junho de 1966, pelo Papa Paulo VI (Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, 1897 – 1978). Pesquisando sobre o que levou a Igreja Católica, por meio do Papa Paulo VI, a abolir o “Index Librorum Prohibitorum”, descobri que a simples inclusão do título ou a emissão de uma advertência, na verdade, estavam era promovendo a obra, despertando interesse, curiosidade – em alguns casos, mundialmente – e acelerando vendas, fabricando best-sellers, livros que provavelmente teriam vida curta, passariam batido e seriam esquecidos num curto espaço de tempo. "A propaganda – ainda – é a alma do negócio".
João Scortecci
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