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KARL KRAUS, O PANFLETÁRIO DO PAPEL

Gosto da palavra “panfleto”, o que ela representa e de sua importância na divulgação em massa de uma ideia ou marca. Um sobrevivente: prático e funcional, em tempos de mídia eletrônica. Quem não gosta de um panfleto de rua? Eu adoro. Digo o mesmo dos cartões de visita: insubstituíveis! Alguns – pobres de espírito – chamam-no de folheto. Um folheto é um panfleto que não deu certo: tempo, papel e tinta perdidos! Os panfletos são revolucionários, criativos, irados de ideias, poesia e paixão. No século XII, circulou na Inglaterra um poema de amor escrito em latim, com o nome de “Pamphilus seu de amoré”, anônimo, que se tornou popular e foi traduzido para inglês como “Phamphlet”. Até os fins do século XIV a palavra “Phamphlet” era usada em inglês para designar qualquer texto pequeno, de tamanho menor do que os enormes livros manuscritos daquela época, antes da invenção da imprensa. O dramaturgo, jornalista, ensaísta, aforista e poeta austríaco Karl Kraus (1874 – 1936), indicado duas vezes ao Nobel de Literatura, é considerado como um dos maiores escritores satíricos em língua alemã do século XX e um panfletário “casca de ferida”. Editor e único redator durante quase 40 anos da revista “A Tocha” (“Die Fackel”), denunciava com grande virulência a corrupção da língua, responsabilizando principalmente a imprensa da época. Karl Kraus, filho de um rico fabricante e comerciante de papel, viveu para seus escritos e organizou sua vida em torno de seu trabalho de editor, escritor e panfletário. Durante a vida, tomou posições liberais, conservadoras, socialistas e clericais. Tornou-se membro da Igreja católica, mas abandonou o catolicismo em 1922, vinte e três anos depois que, da mesma forma, renunciou ao judaísmo. Em 1933, escreveu a sátira “A Terceira Noite de Walpurgis” (“Die Dritte Walpurgisnacht”), sobre a ideologia nazista, que começa com a famosa frase, "Mir fällt zu Hitler nichts ein" ("Nada me ocorre sobre Hitler."). Karl Kraus morreu em Viena, em 12 de junho de 1936, aos 62 anos de idade, depois de ter sido atropelado por um ciclista. Para Karl Kraus, a linguagem era o desenvolvedor mais importante dos males do mundo: “que a mais antiga das palavras seja estranha de perto, recém-nascida, e cause dúvida se está viva ou não. Então ela vive!”.

João Scortecci