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MELATONINA E O MITO DO NORMAL

Eu durmo cedo. Deito e durmo. Ligo o radinho de pilha e apago. Adoro um chiado, uma estação fora de sintonia, notícias repetidas e alguns programas esportivos. Três coisas me fazem - ligeirinho – mudar de estação: A Voz do Brasil, boca de sindicalista e médico falando de doença. Fora isso: vale tudo: gente pedindo dízimo, vendendo lugar no inferno, político falando e não dizendo nada e economista fazendo previsões. Não dá! Acordo cedo: 4 da manhã, no máximo, e fico enrolando na cama ou no sofá da sala, até as 5. Funciona assim: quando já escutei de tudo fico com o Paulo Galvão, no CBN Madrugada ou no Band Coruja, com o Pedro Rafael. Lendo sobre “Truques simples para dormir bem”, encontrei uma dica que – confesso – desconhecia: massagem nos ouvidos! Dizia a matéria: “Pesquisas mostram que colocar os dedos cerca de 1 cm atrás do meio da orelha e manter a pressão nesse ponto por 10 a 20 segundos - pode - ajudá-lo a adormecer!”. Pode! Desliguei o radinho de pilha, apaguei da cabeça o cortisol do dia, abracei o travesseiro de melatonina e iniciei – confiante - o exercício da massagem nos ouvidos. Dormi em segundos. Até ai nada de novo. Já disse: deito e durmo, sempre. No exército – isso nos anos 1976 – aprendi técnica de programar o cérebro para dormir um determinado número de horas - ou mesmo minutos - e acordar pontualmente. Funciona. Hoje acordei com a voz do Pedro Rafael, nos ouvidos. Estranho. E a técnica de “bolinar” as orelhas? Não sei se funcionou ou não. E o que é pior: não registrei na consciência a hora que catei na cabeceira da cama o radinho, liguei no Band Coruja e parti para o céu. E o que é pior: durante o sono - ainda - troquei as pilhas do radinho! A cartela nova, com 4 pilhas Duracell, estava violada e com duas pilhas a menos. Desconfio que o culpado seja o livro que estou lendo “O mito do normal” do Gabor Maté. Ontem li algo sobre o medo infantil que tenho de virar “abóbora” na virada do dia. Diz o livro: algo que deve ter acontecido na infância, algo assim. Um detalhe, insignificante, talvez: acordei com as orelhas doloridas. Dor conhecida, do tempo de menino, da época que minha mamãe Nilce puxava e torcia, com força, as minhas orelhas, sem piedade. Dizia, sempre: Você é um menino danado! Excesso de cortisol ou, provavelmente, imperatividade aguda e  doentia, de um sonâmbulo desativado. 

João Scortecci