Algo no ar no dia de ontem. No dia de hoje: tudo igual, estranheza que se repete. Déjà vu? No escuro da porta do quarto observo o vazio de janela entreaberta. Calor dos infernos. Lamparinas no balanço do fio de cordas e brisa de morte. Observo: cabide no chão, camisa suja de sopa de palmito e dor inglória, nos ossos. Rosto na cunha do avesso do espelho. Reflexos e seus pêndulos! Sombras da noite, talvez. Almas que se curvam no tempo. É o que arde e coça. Sapato preto, sem meias. Hora do mijo. Urinar-me! Suor azedo e incolor, cheiro de pele e dama da noite. Abajur francês, alguns livros, mesa de mogno e talheres de aço. Sujos. O que se esconde na rua de fora? Barulho incolor - talvez - e nada mais. Desconfio: lua de Vênus ou cadela no cio? Miudezas que passam. Eu espero o sino já visto. O sol sabe de mim.
João Scortecci
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